F E M I N I C Í D I O

 

Maria da Penha olhou a rua discretamente, aguardava duas amigas que passariam de Uber para apanhá-la. Passava um pouco das oito da noite, suspirava aliviada por, enfim, poder se distrair um pouco e fazer o que gostava e que estava privada disso há quase três anos, ou seja, curtir uma noite de lazer, se divertir, voltar a viver a vida com entusiasmo. Desde que conhecera Mauro nunca mais havia saído, tornara-se uma reclusa dentro de sua própria casa achando que amar incluiria esse detalhe na sua vida. Maria da Penha, ou simplesmente Penhinha, se entregara de corpo e alma a esse homem e tinha certeza que o amava e era amada. Enganou-se redondamente, para ele era simplesmente uma escrava e pouco saía de casa, era só para levar seu filho Glauco de dois anos na escola e ir buscá-lo e assim mesmo sob vigilância.

 

Penhinha conheceu Mauro quando fazia compras num shopping, fizeram amizade e daí surgiu o namoro, quando passaram a viver juntos na casa de sua mãe, onde ela morava com o filho fruto de uma relação anterior. Tudo no começo era excelente, ele a tratava bem, dizia gostar dela, mas o ciúme lhe veio a cabeça e as coisas começaram a mudar. Como ela morava na parte dos fundos da casa a mãe não ficava sabendo dos problemas e agressões verbais e até físicas. Penhinha nem sequer informava para sua mãe o que acontecia e agüentava aquela situação, até que sua genitora descobriu e orientou para que deixasse esse rapaz. Imaginava ela que tudo mudaria, porém isso não aconteceu e ele foi expulso da casa, no entanto passou a persegui-la e o caso foi parar na Polícia. Ele foi impedido de se aproximar de Penhinha, mas nem assim cumpria a determinação judicial.

 

O Uber chegou e Penhinha embarcou no veículo, iam as três para uma festinha na casa de uma das amigas, que ficava num bairro vizinho. O pequeno Glauco ficou com a avó que entendeu que ela precisava se distrair um pouco. A festa transcorreu normalmente, lá por volta da meia noite, justamente na hora que ela voltaria para casa, eis quem surge em sua frente: Mauro. Penhinha ficou preocupada mas cedeu aos apelos do ex-companheiro, que queria conversar com ela a sós. Ela afastou-se um pouco das amigas e teve inicio a conversação, só que Penhinha não quiz acordo com ele, que desejava a aproximação para viverem juntos novamente. Com a negativa dela ele sacou uma faca e a lâmina penetrou o abdômen dela por seguidas vezes, o que lhe causou a morte imediata. Feito isso o covarde fugiu e tomou rumo ignorado.

 

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N.B.: Estamos vivendo dias difíceis com o aumento da criminalidade, principalmente contra as mulheres, o famigerado feminicídio. Este conto é uma crítica para nossas autoridades que não conseguem conter a onda de assassinatos que não pára de crescer.

Existe a conhecida Lei Maria da Penha, nome dado a personagem desta história fictícia, mas que tem tudo a ver com a nossa realidade.

 

 

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/09/2023
Reeditado em 05/09/2023
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