Vingança
Sandra era uma mulher determinada e forte. Aprendeu a ser assim, precisou sobreviver e ajudar a família. Nunca desistia diante dos obstáculos. Com menos de trinta anos,ela era uma mulher competente e tinha um currículo invejável para a sua idade.
Ela chegou naquele lugar com um objetivo bem definido. Tinham traçado todas as estratégias e pesquisado tudo a respeito de seu alvo.
Lá estava Sandra num barzinho. Esperava a sua oportunidade. Otávio chegou para curtir o happy hour com amigos. Sabia que ele não resistia a um rabo de saia, ainda mais se fosse jovem, tivesse um corpo escultural e um rosto lindo e isto ela tinha de sobra.
Ela visava uma vaga no departamento financeiro da empresa dele. Não queria ir pelas vias convencionais e talvez não conseguir. Preferiu tratar direto com o chefão.
Com poucos olhares, sorrisos e charmes Otávio estava encantando pela bela mulher.
Acabaram o encontro em um motel e ela mostrou a que veio deixando-o cativo dos seus encantos. Sabia que ele era casado, mas não se importava.
Dias depois, com ele comendo em sua mão, ela conseguiu a vaga que almejava.
Ela se torna amante de Otávio e seu braço direito na empresa.
Ele completamente apaixonado não pensava em mais nada e confiava totalmente nela.
Em pouco tempo ela consegue que ele termine seu casamento.
Com o tempo ela vai conseguindo dele tudo o que quer e começa a transferir para seu nome imóveis, dinheiro e outros bens. Por fim consegue transferir metade das cotas da empresa para seu nome. Ele assinava tudo que ela mandava sem ao menos ler. Ele cego e confiando não se dá conta do que está acontecendo.
Depois da transferência das cotas, o seu advogado o interpela:
-Otávio, você não acha que está indo longe demais? Será que essa mulher vale e merece tudo o que você está fazendo?
-Do que você está falando?
-De tudo que você está dando pra Sandra. Está passando dos limites, você não acha? Sei que não tenho nada com isso e me calei até agora, mas é meu dever abrir seus olhos.
-Eu não dei nada pra Sandra. Ela meu braço direito e merece um bom salário.
-Como não deu nada? Olha isso.
Era um contrato social da empresa passando metade das cotas pra ela.
-Eu não assinei isso, nem estou sabendo.
-A sua assinatura está aí. Veja. E os imóveis e as transferências em dinheiro pra ela?
Otávio verificou tudo o que havia sido passado pra Sandra e colocou as mãos na cabeça.
-Ela me traiu sordidamente. Eu confiei nela.
Ele chorava, não tanto pelos bens que estava perdendo, mas porque a amava e estava se sentindo traído e enganado pela mulher que achava o amava.
-Temos como reverter isso?
-As assinaturas são suas. Podemos tentar, mas é muito remota a chance de se conseguir.
Ele se levantou e foi até ela. Chegou na sala e foi entrando.
-Sandra.
-Oi, Otávio!
-Eu já sei de tudo. Dos desfalques que você deu na minha empresa, nas minhas finanças, nos meus bens.
-Desfalques?
-Não se faça de boba.
-Acho que você está com algum problema de memória. Será a idade?
-Nunca imaginei que você fizesse isso comigo, nem que fosse tão cínica. Eu acreditei no seu amor, eu acreditei na sinceridade de suas intenções. Acreditei na sua honestidade e fidelidade. Eu estava cego de paixão. Eu me atirei de olhos fechados. E o que eu ganhei foi uma punhalada pelas costas.
-O que eu fiz de errado? Todas as assinaturas são suas, todos os documentos foram assinados por você espontaneamente. Todas as transferências foram feitas por você, inclusive as cotas da empresa. Você deu tudo pra mim porque quis. Não consegue se lembrar?
-Eu devia acabar com você. Mas nem isso eu não consigo porque desafortunadamente eu continuo te amando, te desejando. Nem consigo imaginar minha vida sem você.
-Você acha que eu não te amo?
-Não seja tão falsa. Você nunca me amou. Tramou tudo friamente. E o fez muito bem. Meu advogado disse que não há nada a fazer.
-Tanto eu te amo que eu não cheguei até onde queria. Eu queria você na sarjeta.
-Por que eu? Por que me escolheu como sua vítima?
-Otávio, eu tenho idade pra seu sua filha. Você é vinte e quatro anos mais velho que eu.
-E daí? Não foi por isso que você me saqueou.
-Você se lembra que tinha um sócio? E que ele era seu amigo? E que você o traiu?
-Sim. Eu me lembro do Júlio. E o que ele tem a ver com tudo isso?
-Júlio, aquele que você enganou, traiu, roubou e colocou fora de sua vida era meu pai.
Otávio empalideceu.
-O quê? Você é aquela menina que eu conheci?
-Sim. Você deixou meu pai na miséria. Você não imagina o que minha mãe, meu irmão e eu passamos. Meu pai se desiludiu depois que você o roubou e se entregou aos vício da bebida e do jogo. Morreu na miséria. Minha mãe foi definhando também e em seu leito de morte me fez jurar que eu me vingaria de você.
-Adiantaria eu dizer que não fiz nada disso?
-Não. Meu pai nos contou tudo.
-Sandra, seu pai não se entregou ao vício do jogo e da bebida depois que nós desfizemos a sociedade. Ele já jogava e já bebia muito. Eu não o roubei. Ele perdeu tudo no jogo e eu comprei a parte dele na empresa para que ele não fosse morto por dívidas de jogo. Quando vocês se mudaram daqui foi porque ele precisava fugir. Eu paguei as dívidas de jogo dele, até mais do que valia a parte na sociedade. Não fiz nada contra seu pai, pelo contrário, sempre tentei ajudá-lo. Fiz tudo que pude para que ele voltasse à realidade, parasse com seus vícios. Éramos amigos.
-Eu não acredito em uma palavra do que você diz.
-Venha comigo. Tem alguém que pode lhe contar toda a história.
-Você pode pedir pra qualquer um dizer o que você quiser.
-Ouça o que ele tem a dizer, depois se quiser você investiga a história. Você é boa nisso.
Ela aceita ouvir e se sente decepcionada ao saber que talvez o pai não fosse o que dizia.
Ela vai atrás da verdade e descobre que seu pai foi o único responsável por sua ruína.
Chora de decepção, de tristeza e de raiva de si mesma por ter passado tantos anos atrás de uma vingança que nem era justa. Sentiu raiva por ter alimentado o ódio que sua mãe lhe incutiu e de ter jurado que ia se vingar. Dizia pra si mesma que nunca foi assim. Seu coração sempre foi bom, seu caráter não é de uma mulher que trai e se vinga mesmo amando um homem.
Ela procura Otávio.
-Oi, Sandra!
-Otávio, estou envergonhada. Você não merecia tudo o que fiz. Eu não sou essa que trama pelas costas, que rouba e destrói o outro. Ainda mais quando é o homem que eu amo. Eu estou aqui pra lhe restituir o que lhe tirei. Só seu casamento não posso restituir.
-Restituir o que me tirou é o menos importante. A única coisa que eu sempre quis de você é o seu amor, sua lealdade, sua cumplicidade. Você nunca entendeu que é amor o que sinto por você? Que eu não sei viver sem você?
-Eu não posso ficar com você. Não depois de tudo o que fiz.
-Vamos esquecer tudo. Você é minha sócia, é a minha amada. Tudo foi um grande mal entendido. Agora eu já entendi os seus motivos e você já sabe que não sou culpado.
-Você é capaz de me perdoar?
-Entendi que você cresceu me odiando, achava que tinha razão.
-Mas eu traí esse ódio ao me apaixonar por você. Nem consegui lhe deixar na ruína. Ao me fazer jurar, em seu leito de morte, que vingaria meu pai, minha mãe não pensou em mim. Não pensou que estava jogando em minhas costas um fardo pesado demais. Eu não sou ódio, eu sou o amor que sinto por você, mas estava dividida pois pensava que não podia quebrar o juramento que fiz.
Otávio a abraça.
-Se você quiser ficar comigo nossa vida é a partir de hoje. Vamos esquecer o passado.
Ela chora e ele beija suas lágrimas. Abraça e dá o consolo que ela precisa.