Duas Mulheres, Um Segredo
Eram amigas desde a infância. Nunca houve segredo entre elas.
Tudo era partilhado. As dores, as alegrias, os amores, as euforias.
Ana Carolina e Maria Cristina eram mais que irmãs.
Era como se tivessem partilhado várias vidas. E elas acreditavam nisso.
Não havia um dia que não se falassem. Nem que fosse poucas palavras.
Quando uma precisava a outra estava sempre à disposição para chorar, sorrir e sentir.
Seguiam juntas na vida e juravam que nada poderia abalar a amizade entre elas.
Estudaram juntas desde início da vida escolar.
Quando a adolescência despertou fortes emoções elas partilharam suas dúvidas.
Partilharam sentimentos, frustrações e sofrimentos.
No fim do ensino médio Ana Carolina teve que ir morar com uma tia.
Temporariamente ficaria por lá. Maria Cristina ingressou na universidade.
Quase um ano depois Ana Carolina voltou e já não era a mesma.
A sua amiga a acolheu e conversaram muito.
Ana Carolina tinha crises de ansiedade e muitas vezes ficava deprimida.
Maria Cristina estava sempre presente. Ajudou a amiga em seu tratamento psiquiátrico.
Guardava em seu coração o segredo da amiga.
Fizeram o mesmo curso e juntas abriram uma farmácia e tiveram sucesso.
Aos poucos Ana Carolina voltou a sorrir, voltou a amar a vida e acreditar no futuro.
Elas amaram, namoraram, viajavam, curtiram a vida e sempre juravam amizade eterna.
Já perto dos trinta anos Maria Cristina conheceu um cara por quem se apaixonou.
Ele também se apaixonou e ela pensava que era o amor de sua vida.
Namoraram por um tempo e já pensavam em casamento.
Ana Carolina estava sozinha e algumas vezes mostrava uma ponta de ciúme
E se insinuava para Carlos Eduardo, o noivo da amiga.
Ela, ingênua, não se dava conta do que acontecia.
Carlos Eduardo começou a ficar frio e distante.
Maria Cristina não entendia e se abria com a amiga que a consolava.
E chegou o dia fatídico em que Maria Cristina pegou seu amor com a amiga.
Cega de ódio, tristeza, decepção e se sentindo duplamente traída, jurou se vingar.
Elas não se falaram mais, desfizeram a sociedade.
Ana Carolina namorava Carlos Eduardo e Maria Cristina cada dia se sentia pior.
Os dias passavam e ela pensava em se vingar.
A mágoa e o ódio que sentia eram maus conselheiros.
Num ato impensado e tomada pelo sofrimento, mágoa e inveja, revelou um segredo.
O maior segredo da amiga revelado publicamente. Ela disse pra quem quisesse escutar:
-Ana Carolina, a santinha, a boa moça guarda um segredo terrível
A boa mocinha engravidou aos dezessete anos e foi morar com a tia até o bebê nascer.
E o bebê voltou como irmão da menina de família.
Hipocrisia de todos e o castigo dela é ter que conviver com o filho como se fosse irmão.
Sua depressão, ansiedade e todas as suas doenças se chama remorso, culpa.
É uma hipócrita que traiu a amizade que sempre tive por ela.
Eu devia imaginar. Se foi capaz de trair o filho que carregou na barriga…
Por que não me trairia? Essa falsa se fazendo de amiga me roubou o noivo.
A minha confidente me ouvia e pelas costas me traía.
Eis quem é essa mulher que se faz de santa e recatada.
Ana Carolina chorava e se desesperava.
Seu filho, de quinze anos, tratado como irmão a odiava. O namorado a desprezava.
Naquela cidade pequena dos anos 1980 todos, maldosamente, comentavam.
Mergulhada em depressão, desprezada e humilhada, Ana Carolina se afastou de todos.
Levou muito tempo para se recuperar e tentar ganhar a confiança e amor do filho.
Sentia-se arrependida por seus erros, inclusive por trair e magoar a amiga.
Carlos Eduardo desapareceu como fumaça.
Maria Cristina seguiu sua vida.
Pensava que um dia seria feliz e voltaria a confiar nas pessoas.
Lembrava sempre de sua amiga e pensava que tudo poderia ter sido diferente.
Sentia-se arrependida por trair a confiança de uma pessoa tão querida.
Desejava que Carlos Eduardo nunca tivesse aparecido em suas vidas.
Um triângulo amoroso que destruiu amizade, confiança e terminou em traição.
(Conto escrito por sugestão e convite do recantista Moacir Rodrigues a quem agradeço.)