As mil e uma noites de luizinho

Luizinho foi transferido à escola do bairro, que tinha programação para dóis turnos. Pela manhã ele fazia a escola e a tarde a oficina. No primeiro dia na escola os colegas de sala o batizaram de caverinha e ele sem poder fazer nada reclamou a professora, que disparou:

- quem mandou tu te meter com eles, agora te vira. E o jeito foi seguir ouvindo dia a dia o chamarem assim.

Quando havia estabilizado pro seu lado, pois já havia até acostumado com seu apelido, deparou com um estudante já adulto, cujo pseudônimo era ‘karatê ‘, que o olhou de cima pra baixo e daí em diante começou a chaná-lo: de feio. Dizia ele inúmeras vezes:

- égua rapaz tu é feio, tu é feio... repetindo isso aonde encontrasse com o pobre garoto. Cansado de ouvir pediu a sua mãe pra resolver. E ela o repreendeu dizendo:

- te vira, quem manda tu te misturar a eles.

Dias foram passando e ele se apresentou pela tarde a oficina de carpintaria. Quando chegou com aquele corpo franzino os instrutores o premiaram com um novo apelido, o de bandeira de pirata. Ele subserviente e humilde, até relutava, mas a pressão era intensa e ele sem forças pra reagir, começou a entender, que eram só palavras.

O menino se sentia fustigado, reclamou para um padre ao confessar , que lhe aconselhou :

- meu filho, não ligue pra eles. Isso passa. É uma brincadeira de mau gosto usar deficiência ou qualquer situação embaraçosa, que alguém tenha passado pra tirar vantagem. Mas tenha calma, que tudo isso passa.

Mesmo coma orientação do padre cansado de ser fustigado foi a diretoria e a diretora o aconselhou assim:

- quando te apelidarem, não ligue, finja que não é com você, isso passa , você vai ver.

Luizinho pensativo , não satisfeito reclamou a um amigo de sala, que o orientou dizendo:

- caverinha, tu és caveira?... tu és bandeira de pirata?...

Luizinho entendendo a explicação respondeu a todas as perguntas, que não .

Aí seu amigo disse: e feio... tu és feio?

Luizinho disse: sim.

E o amigo continuou: então porque ficar cabisbaixo. Entenda, Deus nunca ver as pessoas como os humanos, e você no seu interior é lindo. Não se deixe vencer por eles. Você é precioso demais, tua vida é importante pra você e pra muitos não se preocupe, que tudo isso passa. Você está em transformação. Lembra que antes de ser uma linda borboleta , você ainda é uma lagarta , que todos nós passamos por esse processo.

Aí Luizinho compreendeu e passou a não se permitir agredir pelos apelidos.

Anos passaram e bandeira de pirata ficou no desuso, o feio ficou esquecido e o que convenciou foi o apelido de caverinha. No colégio ninguém sabia o seu nome verdadeiro, além de caverinha .

Aí quando veio a semana do teatro, aonde ele nuca fora convidado pra atuar, teve uma chance de ouro, porque ninguém queria interpretar a ovelha perdida que o pastor procurava. Cheio de personalidade, ele tomou pra si a personagem. E aconteceu, que no momento em que o pastor procura a ovelha, ele sai de debaixo da curtina e faz : beeer, beeer, beeer... naquela escuridão do teatro, apesar dos apetrechos, que o encobriam , naquela imenso silêncio alguém gritou:

- olha... o caverinha é a ovelha perdida. E o teatro veio abaixo, inundado de risos e gritarias incontroláveis. Aquela estrela coadjuvante da peça, foi aplaudida de pé, sem precisar dizer nada além de beeer. Fator preponderante , que contribuiu assintosamente para aquele primeiro lugar.

Os risos e os aplausos, a invasão dos colegas pra o abraçá-lo e ergué-lo aconteceram pra ele sentir quão carinho todos devotavam a ele, não por pena, mas pela humildade e porque não dizer talento e coragem para enfrentar o ridículo, de uma sociedade, que discrimina quando não entende, que todos nós somos humanos, independente do problema ou da classe social, que todos devem ter a oportunidade para mostrar suas habilidades e conquistar o respeito. Afinal, quem somos nós de nós mesmos, ninguém é menor ou maior que o outro por ser diferente.