As Pegadas do Tempo

Em uma tranquila tarde de outono, na cidade do Rio de Janeiro, berço de histórias tão variadas quanto o próprio país, conheci um homem que me instigou com uma indagação simples, porém profunda: "O tempo realmente cura tudo?".

Esse homem, chamemos de Augusto, era um acadêmico de meia-idade, cujas preocupações o haviam levado a questionar a natureza implacável do tempo. Sua figura era um retrato de elegância, vestindo um terno escuro que ressaltava sua postura ereta e seus cabelos grisalhos. Os olhos, porém, guardavam a melancolia de alguém que havia conhecido o peso das perdas e das desilusões.

À medida que nossa conversa avançava, Augusto começava a desenrolar a tapeçaria de sua vida perante meus ouvidos ávidos. Ele tinha vivido uma vida dedicada aos estudos e à busca do conhecimento, uma jornada que o afastou dos prazeres mundanos que a juventude costuma oferecer. Mas havia um episódio em seu passado que o atormentava e que estava relacionado à pergunta que ele me fizera.

Uma paixão avassaladora por uma jovem de beleza rara, chamada Elisa, tinha sido o ponto de viragem em sua vida. O tempo que compartilharam juntos havia sido efêmero, mas intenso, como uma chama que queima com fervor e depois se extingue. A partida de Elisa deixou um vazio em seu peito que ele nunca conseguira preencher completamente.

Após a partida dela, Augusto se isolou do mundo, dedicando-se inteiramente à sua carreira acadêmica. No entanto, o fantasma da perda o assombrava a cada noite solitária, como um lamento ecoando pelos corredores vazios de sua alma.

Nossa conversa se estendeu por horas, enquanto eu ouvia sua história com atenção. A resposta à sua pergunta não era simples, pois o tempo, esse mestre silencioso, age de maneira ambígua. Ele cura feridas, mas deixa cicatrizes. Ele apaga memórias, mas deixa saudades.

Ao cair da noite, Augusto finalmente concluiu: "O tempo não cura tudo, meu caro amigo, mas nos ensina a conviver com as cicatrizes e a transformar a dor em sabedoria. Elisa permanecerá eterna em meu coração, mas, com o passar dos anos, aprendi a apreciar a beleza efêmera da vida, como um poema que se escreve a cada instante."

Nossos caminhos se separaram naquela noite, mas as palavras de Augusto ecoaram em minha mente. O tempo pode não curar todas as feridas, mas nos presenteia com a capacidade de encontrar significado na jornada, mesmo nas dores mais profundas. A pergunta de Augusto ficou comigo, um lembrete de que a busca por respostas é tão essencial quanto o próprio tempo que nos guia por essa incrível e complexa jornada que é a vida

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 25/08/2023
Código do texto: T7869952
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