Rodízio de doces - BVIW
Rodízio de doces - BVIW
Hoje almocei um prato grande. Queria comer a tristeza, o silêncio e a falsa indiferença. Queria que no fundo do prato tivesse um pouco do doce da vida e sabendo que não teria, demorei com a comida. — Tá me ouvindo, Luzia?! — Estou. Mas será que não dá pra levantar e criar um clima de sobremesa? — Que nada! Só se eu voltasse no tempo, outra estação. E o tempo não para… não para Luiza. — E se eu dissesse que agora tenho poderes?
Neste momento o telefone foi desligado. Ao invés de tocar a tela do celular, o telefone foi colocado no gancho. Uma sensação de leveza foi devolvida ao corpo que parecia magro num par de bermudas. Uma bicicleta roxa com cestinha estava prestes a ser trocada por um gol quadrado. O amor não vivia ali do lado, mas seria questão de tempo. Emocionava-se perdida no passado onde os erros eram poucos.
— Tudo bem nesta estação aí ? — Luzia, da pra adiantar para a próxima estação? A que considero minha fase menos incerta e mais comprometida. — Querida, meus poderes são temporários. Daqui a pouco só poderei lhe oferecer um rodízio de doces como os da sua irmã Isaura.
E de repente a mesa de doces estava posta. Do doce de Leite ao de mamão. Do de cidra ao de laranja, do pé de moleque ao de banana, a palha italiana é quem manda.
Não sei o que Luzia arrumou; de repente, nem pude escolher o doce. Lá estava eu na timidez da infância posando para uma foto preto e branco junto a minhas irmãs Elinei e Valéria. Que lindas éramos! Até esqueci que estava triste. A doçura da vida existe.
Marília L Paixão