A MOÇA DA PASSARELA (BVIW)
Selzer circulava a praça no seu Uno Mille prata quando parou na passarela de pedestres para a moça passar. Em suas retinas, a imagem dela cravou-se por inteiro: sandálias beterraba, pernas branquinhas, vestido preto acima do joelho, bolsa de franjas, cabelos ruivos. Uma linda mulher! Mas o que mais o pegou foi mesmo o sorriso bonito que ela lhe destinou.
O rapaz seguiu adiante. Mas seguia pensando na força que um belo sorriso pode ter. Que mulher era aquela?! Deu meia-volta, seguiu-a pela rua. Ela ia devagar, olhando vitrinas. Viu-a sentar-se numa das mesas da calçada de uma sorveteria. Estacionou na primeira vaga e rumou para lá. Sentou-se à mesa ao lado, puxou conversa. Descobriu que ela era Rita. Pediu licença para dizer-lhe que ela tinha o sorriso mais bonito que já vira. Ela ficou encabulada, disfarçou, olhou o cardápio e perguntou onde mesmo ele já a tinha visto sorrir. Selzer lembrou-lhe a passagem pela passarela da praça, quando ela atravessava. Surpresa, ela justificou que o sorriso não era para ele, mas para um suposto amigo muito parecido, o Jairo, que, aliás, tinha um Uno igualzinho ao dele. Constrangido, Selzer fez menção de se levantar. Foi quando ela disse:
— Senta aí, vai! Vamos tomar um sorvete.
— Tem certeza? — ele disse quase sem acreditar.
— Absoluta! Seu sorriso também é lindo!
Os dois riram juntos num entendimento codificado. A um só tempo pediram o mesmo sabor de sorvete. Riram novamente. O gelo quebrou-se de vez. E dali por diante boas risadas passaram a dizer mais que qualquer palavra. Era o lado doce da vida começando, ironicamente, com uma boa torta de limão.
Tema da Semana: O doce da vida (conto)