Ciclos

No coração da cidade, vivia um homem de maneira despretensiosa. Anônimo aos olhos da multidão, ele vagava pelas ruas, sempre pronto a estender uma mão amiga a quem precisasse. Era um observador silencioso das vidas que se cruzavam com a sua, um confidente das almas que buscavam refúgio em suas palavras sábias.

Certo dia, enquanto contemplava o crepúsculo, ele fez uma pausa para refletir sobre o trajeto de sua vida. Muitas pessoas haviam passado por seu caminho, buscando consolo, amparo ou um simples ouvido atento. Ciclos de conexão e separação se sucediam, deixando-o com uma sensação de que a sua existência era apenas uma estação de parada para outros viajantes.

Na quietude de sua meditação, um recente acontecimento ecoou em sua mente. Uma mulher, atormentada por um relacionamento que parecia enredá-la em aflição, havia cruzado seu caminho. Ele a ouvira, compartilhara suas palavras de sabedoria e oferecera consolo. Com dedicação incansável, guiou-a através de seus dilemas emocionais e proporcionou apoio religioso que acalmou sua alma tumultuada.

Com o passar dos dias, a mulher encontrou a força para enfrentar seus desafios, emergindo da tormenta com uma nova clareza e resiliência. Contudo, à medida que a tempestade se dissipava, ela também se afastou. Como um espectro que desvanece na neblina, ela partiu sem deixar rastros, como se a conexão que compartilharam fosse apenas um capítulo efêmero.

O homem meditativo não pôde deixar de comparar esse episódio com os inúmeros ciclos que havia vivenciado. A sensação de ter sido um farol em meio à escuridão alheia estava acompanhada pela melancolia dos laços quebrados, das histórias interrompidas. As almas que haviam se apoiado nele pareciam continuar suas jornadas sem olhar para trás.

Nesse momento de reflexão, uma voz suave parecia ecoar ao seu redor, como se as próprias estrelas lhe sussurrassem palavras de compreensão. Ele percebeu que sua jornada não era apenas um ato casual de assistência, mas um chamado para ser uma luz no caminho dos outros. As conexões que ele formara, mesmo que fugazes, deixavam um legado de esperança e consolo.

Ele ergueu os olhos para o céu, sentindo-se reconfortado por um sentimento de propósito. As histórias que ele havia compartilhado com tantos não eram apenas ciclos efêmeros, mas pequenos atos de amor que ecoariam na eternidade. Afinal, sua vida, como a de todos, era uma série de encontros e despedidas, uma teia de conexões que poderiam iluminar o mundo mesmo após a partida.

Assim, ele prosseguiu, consciente de sua missão de ser um ponto de apoio nas estradas daqueles que cruzavam seu caminho. A sua humildade e serenidade eram o sermão silencioso que ele pregava, uma lembrança de que cada vida tocada por sua mão, por mais breve que fosse, tinha um significado profundo no grande mosaico da existência.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 21/08/2023
Código do texto: T7866949
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