CASAL MORTE

Casal Morte

Muitas vezes eu tinha escutado a respeito de infidelidade conjugal e até sobre infidelidade via computador.Ja tinha visto separações por conta desse problema,mas,eu nunca tinha visto e nunca tinha presenciado o casal partir para as vias de fato e acontecer uma tragédia como estou prestes a lhes contar.

Esta é uma história muito triste,mas,estou me prontificando a contá-

la,porque,quem sabe,alguém não se identifique com ela e tire algum exemplo das coisas que acontecem na vida real.

Morava perto de minha casa um casal que tinha três filhos.Ele,um senhor responsável,cujo único defeito,aparentemente,era de se reunir aos fins de semana com os amigos pra bater uma pelada(para quem não sabe,\"pelada\" é jogo de futebol)no areião que tinha perto de nossa casa.O cidadão em questão,que vou omitir o nome,trabalhava no comércio de lojas de roupas e tecidos,numa grande rede de lojas onde era gerente de uma das diversas filiais espalhada pelo Brasil.Saía pela manhã para o trabalho e deixava a sua esposa em casa cuidando das coisas como toda dona de casa deve fazer.Depois que davam um beijo de despedida,ele sumia na esquina com o seu carrinho e ela deixava as crianças na escola e,rumava pra casa de um rapaz que morava sozinho em frente a nossa casa.

Lembro-me claramente que uma vez,na confraternização de final de ano todo mundo festejando a entrada de ano novo,tomando champanhe ou cerveja ou outra bebida mais quente e,o dito rapaz que estava sentado no outro lado da mesa,num lugar oposto ao dela,fazia acenos com a cabeça pra ela,enquanto o marido dela,que não tinha vocação de alcóolotra,já falava com aquela voz embargada pela bebida,dizia:

----- Vamos pra casa,amor!

Ela foi levando-o com todo carinho,imagino,que o tenha colocado pra dormir e daí a alguns instante chegou novamente para passar a noite conosco.

As crianças também já estavam dormindo.

O rapaz em questão,também tinha dado uma saída,mas,ao vê-la de volta,tratou logo de comprar uma outra caixa de cerveja em lata e juntou-se a nós.

Passou-se as horas e todo mundo foi saindo pra dormir.Eu fui dormir,mas,fiquei na espectativa de flagrar um chifre.Voltei e fiquei escondido.

Vi,do lugar que eu estava,que o rapaz se levantou pra ir ao banheiro e logo em seguida,ela também seguiu o mesmo caminho.Daí a pouco,ele voltou e,com mais uns minutos ela também.

A festa estava chegando ao final.Já não havia mais bebida e os dois continuavam nos mesmos locais:um olhando pro outro e o povo saindo.Foi aí que eu vi o primeiro beijo infiel da minha vida.Ele se chegou pra perto dela e de passagem acertou-lhe um beijo na boca.

Ela se levantou com destino a sua casa e do lugar escondido que eu estava vi que ela deixou a porta encostada.Minutos depois,ela apareceu chamando-o.O rapaz com muita ousadia adentrou na casa do vizinho e não vi mais nada.

O final de ano caiu numa sexta-feira.No domingo,estávamos no areião.O cidadão traído estava massacrando a redonda quando bem próximo a mim,ouvi alguém dizer:

---- Além de corno é ruim de bola!

Voltei a cabeça e dei de cara com o \"pé de pano\".Aí,começamos a conversar sobre a noite do fim de ano.

Ele me contou tudinho como foi.

\"Entraram na casa e fizeram sexo na mesma cama em que o corno estava dormindo\".O que fizeram foi empurrar o homem pro canto da parede e cometeram,pra mim,a coisa mais horrível que alguém pode fazer com outra:a traição.

Fitei o cara com muito nojo e saí de perto.

Passou-se os anos e a mulher infiel continuava na mesma sacanagem com o marido.Ele comprou um computador e colocou Internet.Já desconfiava das escapadas da mesma e colocou um monitoramento de PC e,uma escuta telefônica.

Vivia muito triste com essa situação.Faltava ao trabalho e bebia como nunca.Começou a fumar.

Um dia como tantos outros,levantou-se.Aprontou-se para ir ao trabalho e como sempre fazia,deu um longo beijo de despedida na esposa como se quisesse dizê-la que parasse com aquelas coisas.Sumiu com o carrinho.

Ela como antes,saiu em direção a casa de um dos vários amantes.Não desconfiava que bem próximo dalí,seu marido lhe observava por trás de umas árvores.Dentro do carrinho dele já tinha uma faca e um facão.

Passou-se as horas e ele desistiu de esperar.Foi pra casa e deu dinheiro pros meninos saírem e a aguardou.

Quinze pras seis da tarde,ela chega e fica espantada com ele aquela hora em casa,pois,ele chegava sempre às nove horas,depois que faziam todo o balanço do dia.

---- Oi amor.Essa hora em casa?

---- Sim e vc onde estava?

---- Ora,querido,fui a casa de uma amiga!

---- O nome dessa sua amiga é ... e mora na rua ...,número...?Você acha que eu nunca iria lhe pegar?

Neste momento ela viu que a coisa iria engrossar e começou a gritar pelos meninos.Os meninos não estavam.Estavam se divertindo.A primeira facada foi na garganta.Depois que ela caiu ele começou a esfaqueá-la por muitas,mas,muitas vezes.Não contente com o que fez, esquartejou-a com o facão e depois jogou os restos dela no meio da rua.

A vizinhança nesse momento já havia chamado a polícia.Quando a polícia chegou,encontrou o nosso vizinho pendurado por uma corda no pescoço,ainda com as pernas se debatendo no ar.Mais que depressa o policial cortou a corda e levou o vizinho ao hospital.

Nem precisa dizer que os meninos que não sabiam de nada ficaram transtornados ao verem tal violência.Não tinham pra onde ir e,nossa família acolheu-os.

Quase dois anos depois daquela cena de terror,o vizinho ia ser julgado,mas,não tinha condições mentais para tal.Estava preso num manicômio judiciário.Foi julgado à revelia e comprovaram que ele não era mentalmente imputável.No outro dia ele saiu do manicômio.

Nesse meio tempo,ele conheceu uma mulher que estava presa por conta de ter cortado os testículos do marido e desferido inúmeras facadas nele enquanto ele estava dormindo.O nosso vizinho apaixonou-se por ela e,hoje,depois dos filhos o terem abandonado e ido morar com os tios,mora com essa mulher na mesma casa onde ocorreu o fato.

Todas as tardes depois do calorão,os dois passeiam de mãos dadas na praça que fica perto da casa e os moleques que estão pelo caminho abrem passagem com temor,dizendo:

---- Sai da frente que o casal MORTE tá passando!

PORTO VELHO 15/07/1998