PERIÓDICO NOTURNO - Dia 1: “Alguém aí viu minha orelha esquerda?”
Eu não sei quem foi, hoje falei com quantas pessoas …? Dia de folga; uma, duas, três… tenho que contar atendentes de lojas, farmácia, mercado… quatro, cinco… humm… Oito! Sim. Foram oito pessoas… Quem terá me dado esse “sopro” amaldiçoado? Não adianta ficar parado no espelho encarando o estrago… Não adianta chorar. Não. E nem adianta pensar sobre merecimento ou não merecimento, também não. Minha orelha direita se foi. Está lá fora no lixo. Primeiro ela ficou vermelha e coçando… depois amarela e inchada, até que virou uma bola inflamada de pus com um buraco. Uma espinha do tamanho de uma mão. Não, eu não gritei, não pedi ajuda… É uma maldição, então, não adianta… Sopraram ela em mim e pode ter sido qualquer um desses oito. Não importa quem foi gentil, ou grosseiro… ou quem falou menos ou mais. Foi algo maligno que jazia dentro, escondido, apodrecendo e se enchendo de mágoas… rancores… invejas brancas, pretas e até mesmos as invejas verdes, que são raras, não crescem em qualquer lugar… Joguei a cartilagem junto com a pasta marrom de carne apodrecida no lixo lá fora. Revesti o saco com jornais e muitos adesivos e ainda pus numa vasilha. Não quero que um vira-lata coma minha orelha e acabe morrendo de agouro, tristeza e má digestão. Agora vou me deitar e ler um bom livro, pois as histórias nos livros passam como um filme, ou como uma áudio novela em alto e bom som em minha cabeça! Acho… Posso estar sendo paranoico, mas… acho que em algum momento minha outra orelha também apodrecerá. Talvez ainda hoje. Ela também foi amaldiçoada. Só que é mais resistente… E insistente… E além do mais eu sou canhoto. É o meu lado forte.
(H.B)
Voltamos amanhã... 🙏🏽🧟