A SENHORA BASÍLIO (BVIW)
Meu nome é Álvaro Relvas. Nasci na Vila de Nazaré, Portugal. Venho de uma família simples de camponeses, e passei grande parte dos meus dias às voltas com sacas de batatas e as velhas carroças de meu pai.
Conheci Olguinha na praia. Ela era brasileira e estava em meu país visitando parentes. Durante os dias dela na Vila, descobrimos muitas afinidades. Firmamos compromisso e, no fim do ano, vim para o Brasil para nos casarmos. Depois do casamento, fui trabalhar como jardineiro da senhora Olenca Basílio, numa bela mansão na região nobre de São Paulo. Minha patroa e eu tínhamos uma convivência harmônica, de amizade, confiança e respeito.
No dia 5 de fevereiro de 1970, depois de um baile de Carnaval na mansão, a senhora Basílio foi encontrada morta, vestida de Colombina, no fundo da piscina . A polícia foi chamada. Os jornais veicularam que o suspeito seria um dos convidados da festa, mas ninguém soube detalhar o ocorrido. Aquela tragédia abalou a alta sociedade paulista. Pobre senhora Basílio!
Quase cinco décadas se passaram desde aquele fatídico 5 de fevereiro. Ninguém foi preso, e nada até hoje foi totalmente esclarecido. Remexo numa caixa de papéis; nas mãos, alguns retratos dela: tão bonita, tão doce! Noutra caixa, uma fantasia cheirando a mofo. É de um Pierrot. Sob a dor que me avassala neste momento, eu confesso: sempre amei a senhora Basílio. Doeu-me demais vê-la aos beijos com certo Arlequim. Sim, fui eu quem a empurrei naquela noite.
Tema da Semana: Eu Confesso (conto)