O DOMADOR DE ELEFANTE
O DOMADOR DE ELEFANTE
16jul23
Lembrei de uma estória que me era contada por um palhaço de circo Riaj, de origem indiana ainda carregava um sotaque cantado e que mais parecia com um encantador de serpente do que com um palhaço e daí vinha sua graça. Riaj sempre começava seus contos com a frase: até parece mentira, mas é a pura verdade. E assim também foi dessa vez, disse ele: Siul tinha 12 anos quando saiu de Bangalore na Índia e foi morar em São Bernardo do Campo com seus pais e mais quatro irmãos. Vida difícil para a família que para sobreviver na nova terra fazia de tudo um pouco. Siul com facilidade fazia amigos nem sempre de boa índole e com eles aprendeu a linguagem de gírias e um português malandro. Um belo dia ele e dois amigos vão buscar uns trocados trabalhando na montagem de um grande circo que chegava a São Bernardo. Foi lá que eu, Riaj, o conheci. Com sua fala mansa e seu olhar fixo de olhos negros brilhantes, sabia convencer as pessoas e sempre obtinha vantagens. Foi assim no circo, enquanto os amigos faziam trabalhos pesados carregando mastros e puxando cordas que esticam a lona e queimam e cortam as mãos. Siul foi escolhido para tratar do Dumbo um filhote de elefante recém-nascido. O trabalho consistia em dar leite três vezes por dia, dar banho de mangueira uma vez por semana ou todo dia de sol quente e passear pelas cercanias do circo. Siul aproveitava os passeios com Dumbo para prender uma de suas patas com uma corda num tronco de árvore e dormia ao invés de trabalhar. O leite que era o principal e as vezes o único alimento do elefantinho virou instrumento de manobra, se Dumbo obedecia a Siul tinha alimento, se não, ficaria com fome até obedecer. Assim agindo Siul conseguiu a total submissão de Dumbo e com o passar dos anos Dumbo virou atração do circo e Siul virou seu domador nos espetáculos. Dumbo já pesava mais de 4000 quilos e tinha uma força descomunal, mas mesmo assim e com os maltratos constante e crescentes, a sua submissão a Siul era total. Dumbo já adulto em uma das viagens intermináveis do circo cruzou com uma imensa elefoa africana, dois anos e meio depois os dois circos voltaram a se encontrar em Portugal e Dumbo com seu instinto apurado reconheceu naquele elefantinho sua cria. Siul rico, famoso e agora dono do circo, compra o elefantinho e começa a treina-lo. Siul agia da mesma forma como havia feito com Dumbo. Mas um dia Siul resolve que era hora de treinar Dumbo e Dimbo, o elefantinho, juntos para um novo número. Dimbo não conseguia executar as ordens berradas por Siul que então pega seu chicote de couro trançado com pequenos pregos e começa a açoitar Dimbo. Dumbo vendo aquilo arrebentou a corrente que lhe prendia como se fosse de papel e partiu com toda sua força e fúria para cima de Siul, colocando de uma vez por todas fim naquela soberania das maldades. Afinal tudo tem um limite e quando este limite é ultrapassado não há nada que impeça a força do subjugado de aparecer e subjugar seu dominador.
Geraldo Cerqueira