A CASA AMARELA (BVIW)
A manhã ia alta, quando Eduardo Ferraz estacionou seu luxuoso automóvel na Alameda dos Flamboyants, na zona nobre da cidade. Olhou à volta. Nada mais ali lembrava o lugar em que crescera. A via pavimentada, as largas calçadas, as casas de alto padrão, a exuberância dos jardins atrás de altos muros envidraçados, tudo era novo. Caminhou devagar até o fim da rua, onde avistou a casa amarela. Essa sim, continuava a mesma, destoando do elegante cenário arquitetônico que a cercava: duas tímidas vidraças à frente, o alpendre antigo, a cancela baixa. Por um instante, o rapaz estremeceu. Dali, ele tinha saído ainda jovem para cursar Engenharia na capital, e nunca mais tinha voltado. Recompôs-se, e na falta de uma campainha, bateu palmas. Um cachorro surgiu pelo portãozinho lateral. Atrás dele, veio a dona, andando a passos lentos, enxugando as mãos no avental de alvura impecável. Era baixinha, curvada ao peso dos anos, o cabelo ralo juntado num coque. Apertou os olhos pequenos, com restos de um azul distante, e abordou o visitante:
— Às orde, moço...
— Que moço, Vó Maria?! Sou eu, o Dudu!
— Dudu? Ara! E eu lá me alembro de argum Dudu, gente?!— ela resmungou desconfiada. — Ato contínuo, estalou os dedos, convocando o cachorro para segui-la. Cerrou o portão aberto para o imenso quintal coalhado de bananeiras, e desapareceu. Eduardo Ferraz deu meia-volta e encaminhou-se para o carro. Um sorriso enigmático acendia-lhe o semblante: ele era herdeiro único, e a avó o esquecera. Perfeito! Em breve, as máquinas chegariam para as obras: logo, a casa amarela daria lugar a mais um empreendimento de sucesso da Ferraz Engenharia. Entrou no carro e seguiu para cuidar de certos detalhes no "Lar dos Velhinhos", afinal era um rapaz prático.
Tema da Semana: A Casa do Fim da Rua (conto)