A Guerra das Três Cabeças
Após o término da explicação teórica, o professor apagava o quadro e dizia:
- Pois bem, expliquei para vocês o que mais importava sobre Segunda Guerra Mundial para as provas e para os exames. Vou precisar do quadro apenas para mais uma coisa. Antes de listar os exercícios apostilares, vou apenas dar mais uma explicação.
Ele apagava com velocidade o quadro. Provavelmente queria explicar o mais rápido possível e ir embora, afinal professores rechaçam aulas tal qual seus alunos. Não se importava se alguém mais precisasse copiar, seus alunos poderiam copiar uns dos outros. Escrevera apenas cinco palavras: "A Guerra das Três Cabeças".
- Essa forma de pensar não é algo que a historiografia guarda tanta relevância, mas eu considero. A Segunda Guerra Mundial pode ser considerada uma guerra entre cabeças diferentes de um mesmo monstro como a Hidra, monstro filho das cousas Tifão e Equidna. Mesmo que exista uma certa réplica do cume do imperialismo capitalista na Segunda Guerra em relação a Primeira Guerra, a presença de organizações fascistas e socialistas dentro da geopolítica de meados do século XX demonstra a acepção de novas formas de conflito e existência no século XX que jamais existiram em profusão na história. Ocorre, e neste ponto a historiografia seria radicalmente contrária a mim, mesmo que eu possua um conjunto probatório deste meu ponto de vista que não me deixa convir de maneira diversa, cada uma dessas cabeças, cada um desse polos de disputa pelo hegemonia política e econômica global no século XX, tem a mesma fonte: o pensamento iluminista aburguesado. Como vocês lembram pelas aulas de absolutismo, não existe forma de pensamento não correlacionada com a materialidade. É impossível pensar sem lastro, e o pensamento que vige majoritariamente desde o século XV é o pensamento aburguesado, o amadurecimento do pensamento comercial-burguês que leva a construção de teorias e hipóteses que corporificam o espírito da realidade material observável. O imperialismo foi uma consequência do pensamento da hegemonia capitalista e inspirou o pensamento liberalista em grande parte, que o justificou largamente, pensamentos não hegemônicos a eles podem se justificar ao máximo dizendo rechaçá-los, mas, no fim, são uma consequência deles, mesmo que indiretas, e não conseguem contrariá-los completamente, tendo mais fontes no liberalismo do que eles podem ter. Mal comparando, é como o filho que briga com o pai por eles serem muito parecidos.
Os alunos não conseguiam entender com profundidade. Olhavam uns e outros com rostos de dúvidas, até o momento
- Professor, professor. Nós não estamos entendendo. É para anotar tudo isso? Isso cai na prova?
- Não, não precisam. Já disse, esse pensamento meu, além de complexo e pessimista, não encontra viço na Academia e dificilmente será cobrado de alunos em fase secundarista.
- Então por que o senhor está nos ensinando isto?
- Não estou ensinado. Já dei o conteúdo formal, falei que era apenas mais uma explicação antes dos exercícios.
- Então por que o senhor está falando isso?
- Porque depois que você aprende isso e se envenena de pessimismo e realidade, fica insuportável guardar isto para si mesmo.