Sem Poesia no Viver.
Sem Poesia no Viver.
Era uma noite fria, nada se via em qualquer direção que olhasse, um silêncio pertubador, perturbando o peito, que, mudo gritava alto sua dor.
Dizem que apenas no nosso plano existe dor, mas, não é bem assim...
Sou Rocha, e, hoje contarei uma das minhas descobertas.
Um certo momento da criação, muito antes dos seres terrestres pisarem na terra, haviam outros seres habitando a flor desse planeta. Eles em nada se pareciam conosco, sem semelhanças nas atitudes, como nós, travavam guerras por tão pouco, exibia o muito, menosprezando o agora, fazendo planos para um futuro.
Nestas vidas um ser superou tantas mazelas do destino. Matou, agrediu, trouxe em seu caminho caos. Seu corpo era forte, garras brotavam das mãos como navalha onde ceifava a tudo que tocava, nas costas uma cauda pontiaguda e venenosa, sua face emitia medo a todos a sua volta, seus olhos traziam um azul tão profundo, que, quem o encarasse sentia-se afogado naquela beleza. Inimigo de tantos povos, sendo tema para tantas lendas, lendário em seus feitos, cravou na história seu nome.
Destes povos, um em especial tinha uma governante dita de tanta bondade, que, o céu se abria somente para a observar-la, de palavras doces, adoçava a vida de qualquer um que em seu caminho passasse, um corpo bem definido com curvas perigosas, asas tão alvas que chegava a cegar quem por ventura se ousasse admirar, de uma face nunca vista em quadro nenhum, e, quem ousou descrever. Enlouqueceu. Nada sabia-se sobre sua origem, apenas que, seus olhos vermelhos atormentava a quem o fitava.
Em um determinado dia, de um sol ardente, ele chegou até este lugar, causando a mesma ira vista em seus últimos momentos, porém, sentiu um frio momentâneo na espinha, vendo aquela mulher, perdeu-se naquele corpo, que, o levara as portas da perdição. Decidiu então, parar todo caos em prol daquela luz cujo brilho ofuscava o negro de sua alma...
Ela percebendo toda dor emanado ao seu redor, vindo daquele ser nefasto, decidiu enfrenta-lo, mas, quando o viu, sentiu um calor lhe queimando a pele, o azul daquele homem dava-lhe uma calma nunca sentida até então, uma paz jamais encontrada em tantos lugares de suas andanças. Não conseguirá nem mesmo desembainhar sua espada, pois, lhe faltara forças.
Levaram meros segundos se olhando, tempo equivalente a uma eternidade, nos seus olhos frases eram formadas buscando formas para dizer, versos em curtos pensar, e, entre uma poesia e outra, o beijo aconteceu...
Deste dia em diante o equilibrio, junto com a ira, desempenhava o mundo visto hoje. Tudo estava em perfeito estado, mas, toda vida boa trás consigo um mal contido, um ser, descontente com o casal, fizera uma trama com intuito de afastar toda beleza daquele viver. Lançou boatos sobre o casal, em todo lugar, sua imagem era desconstruída pouco a pouco, os habitantes deste universo fora aceitando as palavras deste ser. Tudo foi tão planejado com uma simplicidade, que, ficou impossível desmascarar, a força de tantos pensamentos, de tantas mentes voltadas para mentiras, causou a morte deste sentir.
Ela, sentiu seus sonhos caírem no escuro da alma, perdendo seu brilho na imensidão da angústia da separação.
Ele, tomado de ódio, voltou a seus velhos hábitos, mal dizendo de tudo, inclusive da vida, como um todo.
Tanta falta de amor o levaram a caminhos distintos, um deles pôs os pés na estrada sem nem mesmo olhar para trás, para ver o que deixara. A outra, ficou para as portas de sua idealização, vendo-o se afastar, nem mesmo teve coragem de chama-lo na tentativa de impedir-lo, e, entrando em seu lar, debruçou-se no parapeito da janela, era noite, e, em silêncio gritava sua dor.
Após anos, nós seres humanos reivindicaram esta que já foi palco desse amor, neste achado, estudando minuciosamente suas escritas em hieróglifos, pude compreender a origem dos dois maiores seres do nosso tempo, cuja canção se ouve em cada lar, cada igreja, cada boca dita obediente as palavras, sendo deturpada ou ao menos desavisada.
De tanto sofrer, ela, foi perdendo a tonalidade de suas asas, sua beleza fora destruída pelas lágrimas dos anos decorrentes da tristeza, seu lar, virou um profundo abismo, onde, quem ali caísse, teria sua alma atormentada por essa angústia.
Por sua vez, ele, nos anos em que caminhou solitário, sentindo afastar de si toda raiva em seu sangue, elevou-se ao céu, no intuito de ficar olhando o mesmo povo, que, o condenou a solidão, houveram outras em seu caminho, contudo, seu coração já havia sido de alguém, eu diria possuído por essas lembranças de um tempo, em que o equilíbrio reinava absoluto.
Hoje, clamamos por seu nome, oramos pedindo paz, ele ouve, e, nada faz, deixando-nos viver este desequilíbrio visto nos dias de hoje.
Seu nome... Deus.
Ainda no hoje, amaldiçoamos aquela que seu povo condenou a uma vida no escuro, onde apenas sua dor lhe é companheira, pela saudade do tempo em que o amor era a fonte universal desse universo.
Seu nome... Diabo.
Não espero compreensão de muitos, nem mesmo de poucos, apenas, desses loucos, que, como eu, só veja como uma escrita sem sentido, de um sentido que nos faz pensar:
- Por que até hoje, seguimos as mesmas palavras deturpadas que os separaram, clamando e criando caos no nome dele, dizendo que ela é a precursora de todo mal imposto pelas nossas mentes doentias, como aquele ser invejoso, que, destrói tudo que expressa amor...
Então, resolvi guardar tais pergaminhos, para não causar influencias sobre tais relatos, mas, sou como ela, entristecido pela falta da beleza desse amor, que, um dia trouxe equilíbrio a uma alma perdida, hoje, sem versos, e, o mais importante... Sem poesia no viver.
Texto: Sem Poesia no Viver.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 03/08/2023 às 21:30