A RECEITA DA FELICIDADE
Érica despertou para um dia sem sol, cinzento e frio. Sentiu o peso da tristeza em seu peito, como se o céu refletisse sua alma. Olhou para o quarto em desordem, onde as malas, as roupas, as caixas e os sapatos contavam a história de mais um amor desfeito. Olhou distraidamente para o canto do quarto, e parecia enxergar Mauro sentado lendo seu livro. Era um intelectual. Talvez esse tivesse sido um ponto forte de diferença entre os dois, ela dificilmente conseguia parar para ler um livro. Preferia mais o livro da vida, nas folhas aprendidas no seu dia a dia através do contato humano.
Lembrou-se da voz da mãe, que sempre lhe dizia para ter cuidado com seus impulsos. Quis sentir seu abraço, mas ela já não estava neste mundo. Entre as roupas, achou um caderno de receitas da mãe. Era um tesouro, que nunca havia explorado. Depois de arrumar tudo, sentiu a fome apertar. Vasculhou a geladeira e pegou o que restou. Sentou-se à mesa e abriu o caderno.
Folheou as páginas amareladas vendo as receitas, olhando com amor aquela caligrafia tão conhecida. Parou quando viu um papel dobrado com seu nome . Érica abriu-o devagar deleitando-se com a surpresa. Sua mãe dizia que ali tinha as suas receitas preferidas, cheias de sabores e saberes; que a vida era como uma receita, e que, às vezes, era preciso seguir as instruções, outras vezes criar, improvisar e surpreender. Enfatizou que ela tinha que ser forte na vida, valente e confiante - que nunca parasse de sonhar.
Apertou o papel com força contra seu peito. Aquele bilhete perdido entre as folhas daquele caderno acendeu em seu coração a esperança de ser feliz.