Ser Gato, Ser Cão

Nas margens de minha existência, onde o tempo flui como um rio sereno, encontram-se meus fiéis companheiros: um gato negro, de olhar misterioso, e um cão leal, de olhos brilhantes e afáveis. Cada um deles, em sua essência, revela facetas distintas de minha própria alma.

O gato, batizado de Lysander, desliza como sombras pelo labirinto de meus pensamentos. É astuto e independente, dono de um temperamento enigmático que parece conhecer os recônditos de meu ser. Com a leveza de um sopro de vento, ele expressa a sutileza de meus desejos mais profundos.

Seu olhar, em noites de lua cheia, reflete a luz prateada da introspecção, e parece sondar os segredos que me escondo de mim mesmo. Nas madrugadas de inquietação, Lysander me acolhe com sua presença silenciosa, como se soubesse que em suas pupilas está guardado o reflexo de minha alma atormentada.

Ah, mas o cão, chamado Argos, é o arauto da lealdade e da alegria. Com o coração fiel e a língua amiga, ele me ensina a linguagem do afeto puro e incondicional. Em suas brincadeiras animadas, descubro a criança que habita em mim, aquela que muitas vezes é sufocada pelas obrigações adultas.

Quando o sol nasce, Argos me saúda com entusiasmo e amor, como se cada manhã fosse uma nova oportunidade para compartilharmos a jornada da vida. Ele corre ao meu lado, incansável, como um lembrete de que a alegria está nas pequenas coisas, na beleza simples da existência.

Nesses dois seres, gato e cão, encontro a dualidade que percorre meu ser. Sou como Lysander, ora inquieto e introspectivo, mergulhando nas profundezas de meu ser, ora ávido por independência, buscando meu espaço no mundo com destemor.

Mas também sou como Argos, alguém que anseia por conexões autênticas e que se entrega ao afeto com sincera devoção. A cada lampejo da vida, descubro em mim o abraço cálido do cão leal e o olhar profundo do gato enigmático, ambos fundidos em minha própria essência.

Com Lysander, aprendo que a solidão não é um fardo, mas um portal para a descoberta interior. Com Argos, descubro que a conexão humana é um bálsamo para a alma e que a alegria sincera é um tesouro a ser cultivado.

Nesta jornada de ser gato, ser cão, percorro os meandros da existência, abraçando as dualidades que se misturam em mim. Sou o gato e o cão, o introspectivo e o afetuoso, o enigma e a alegria, e assim, na riqueza de meus contrastes, sigo adiante, na eterna busca pelo significado de ser humano.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 01/08/2023
Código do texto: T7851025
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