A Morte Não se Vinga, Ela Espera

Era uma noite de tempestade, com relâmpagos e trovões rasgando o céu. Áurea, Bernardo e Cássio se encontravam em uma expedição arriscada em meio à floresta, quando depararam-se com um abismo profundo e intransponível que bloqueava seu caminho.

Perdidos em meio à escuridão e com o medo espreitando seus corações, eles pensaram que a Morte havia os alcançado, e que ali, naquele abismo, encontrariam o fim de suas vidas jovens e repletas de sonhos.

Mas, em um momento de inspiração e desespero, Áurea teve uma ideia brilhante. Reunindo as mentes ágeis dos três amigos, ela propôs que todos se unissem em um esforço conjunto para construir uma ponte improvisada, usando galhos e troncos que encontrassem na floresta.

Bernardo, o sábio do grupo, utilizou seus conhecimentos sobre engenharia e matemática para planejar a estrutura da ponte, enquanto Cássio, com sua força e determinação, liderou a equipe na coleta e transporte dos materiais.

Através de trabalho árduo e cooperação, a ponte foi erguida, sustentando o peso dos três amigos quando atravessaram o abismo perigoso. Naquele momento, a Morte, que espreitava nas sombras, foi surpreendida pela habilidade e coragem dos jovens.

No retorno dos expedicionários, os três amigos, Áurea, Bernardo e Cássio, caminhavam pela estrada escura que cortava o caminho de volta a floresta, e antes que pudessem alcançar a ponte improvisada, com grandíssima maestria pelo trio, um misto de inquietação e desafio lhes tomavam o peito. O rumor da presença da Morte em seus corações era acentuado, mas a juventude lhes concedia um semblante destemido.

Em meio a risos e histórias, viram-se diante de uma figura sombria, envolta em um manto negro como a própria noite. Era a Morte, que observava-os silenciosamente. Surpresos, engoliram em seco, mas o atrevimento juvenil os fez ousar perguntar:

"O que quer de nós?", indagou Áurea, com um arrojo que mal conseguia ocultar o nervosismo.

A Morte, em sua enigmática sabedoria, respondeu com serenidade: "Não venho por vingança, mas para oferecer-lhes um presente a cada um. Escolham sabiamente, pois, em troca, apenas espero."

Os três amigos olharam-se em silêncio, contemplando o desconhecido. Cada um sabia que a oferta da Morte era um jogo de sombras, um tabuleiro de escolhas que poderiam selar seus destinos. Mas o ímpeto juvenil ansiava por aventura, e a curiosidade os dominou.

Áurea, a mais corajosa do trio, pensou por um momento e pediu: "Dê-me a habilidade de enxergar a beleza no efêmero, ó Morte. Permita que eu veja a alma das coisas e que aprecie cada momento como se fosse eterno."

A Morte sorriu levemente, como quem reconhece a ousadia, e concedeu a Áurea o seu desejo. A partir daquele momento, ela contemplava a fugacidade das coisas com olhos brilhantes, buscando a poesia na passagem do tempo.

Bernardo, o mais sábio do grupo, ponderou com cautela e pediu: "Ó Morte, permita-me compreender os mistérios do universo, mergulhar no conhecimento além dos limites da vida humana."

A Morte assentiu e, com um toque, presenteou Bernardo com sabedoria além dos livros. O jovem amigo passou a decifrar enigmas cósmicos, mas tal conhecimento o afastou das trivialidades terrenas.

Por fim, Cássio, o mais ambicioso e ávido por conquistas, declarou: "Ó Morte, dê-me a riqueza que supera todas as riquezas, para que eu seja o mais próspero entre os homens."

A Morte, com um brilho enigmático nos olhos, sussurrou algo em seu ouvido, um segredo insondável que o fez sorrir com a ganância em seus lábios.

Os amigos se despediram da Morte e seguiram seus caminhos, cada um com seu presente e suas ambições renovadas. Áurea via a beleza efêmera em tudo, mas também a fugacidade da vida. Bernardo desvendava os enigmas do universo, mas sentia a leveza de suas conexões terrenas. E Cássio, cercado de riquezas inimagináveis, tornou-se avarento e insaciável, incapaz de encontrar a satisfação.

A Morte, sábia em sua espera, foi tecendo sua teia, aguardando o momento oportuno. E, como um destino inexorável, os três amigos foram chamados, um a um, para o submundo, onde a morte, sem vingança, apenas acolhia os que entregavam suas escolhas em troca de um presente sombrio.

E, em meio às sombras, a Morte continuou a esperar, pois sabia que, no final, todos encontraríamos o nosso destino, não como punição, mas como parte da imensa dança do universo. A vida e a morte entrelaçadas em um eterno mistério, esperando por cada um de nós, com seus presentes e seus segredos ocultos.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 31/07/2023
Reeditado em 31/07/2023
Código do texto: T7850237
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