Na esquina da rua Marechal Deodoro há um bar que funciona a 50 anos. Nas mesas de plástico estampado por uma propaganda de uma bebida alcóolica qualquer tem um frasco de palitos de dentes e guardanapos, em uma delas, além desses aparatos e cadeiras tem um homem branco bêbado que frequenta o local sempre que pode.
No balcão, está o dono, Seu Nonato, com uma camiseta branca coberta por uma camisa em listas azuis e verdes na vertical aberta de forma a mostrar a camiseta branca. Nos ombros vai um pano de prato que é para enxugar as mãos ao lavar os talheres e mais uma porção de utilidades, como limpar a gordura das mesas de plástico.
Chega um moçoilo e pede uma lata de uma cerveja, felissíssimo, aguarda ansioso e dançarino o Seu Nonato pegar no freezer a bebida. Quando retorna Nonato ele conta que viu na internet que uma pequena dose de álcool diária reduz o estresse no cérebro e beneficia o coração e, essa era pra comemorar o novo emprego.
- Louvado seja o álcool !!!
… Que a sanidade a muito me distancia.
Viva à loucura sensata!
Lúgubre realidade…
Quero-me morrer lento, porém louco.
Por que Sobriedade, condenaste-me morto?
Exclama o homem de meia idade perdidamente bêbado com algumas doses de cachaça. Barba e cabelo não feitos, olhar moerteiro e capisbaixo como quem nada nunca desejou, nem mesmo estar ali. O moçoilo ignora como o homem de bem ignora toda maldade do mundo e a de si mesmo.
- Um emprego no centro em um escritório é novidade para um negro de favela.
Vai embora. Seu Nonato passa com as mãos no pano de prato desviando os olhos do moçoilo para o bêbado - olhos de pena - .
- Vamos fechar.