A DAMA DE AZUL

 

Ela chegou vestindo azul, na boca um batom vermelho e seus olhos verdes encantavam. Não dava para ver seus pés, possivelmente um salto alto azul para combinar com o longo que envolvia todo o seu corpo que eu já conhecia e que continha grande beleza. Um sorriso discreto e malicioso, logo percebi.

 

Seu acompanhante segurava firme sua mão esquerda, vestia um terno cinza e usava gravata borboleta. Estava sério e logo se acomodaram em uma mesa já destinada ao casal. No ambiente finíssimo uma música ao som de um piano, enquanto isso outros casais iam chegando e ocupando seus lugares.

 

Final de ano, festa de formatura dos concluintes de Contabilidade em 1972, estudantes de um badalado curso que funcionava no centro da cidade. Toda a turma já estava presente, todos sorridentes, inclusive a dama de azul que não saía das minhas vistas. Seu olhar era fulminante na minha direção.

 

Durante o baile a dama de azul, com seu par, me olhava insistentemente. Eu estava apenas na companhia de um amigo que nada percebeu desde o início. Fui até o jardim do espaço de eventos para tomar um pouco de ar e alguns goles de cerveja, meu copo estava na mão. Súbito ela chegou, sozinha, havia dispensado seu acompanhante por alguns minutos e viera em minha direção. Laila, essa minha ex-namorada, não se conformava com a separação, arranjou esse cara que nunca vi só para me fazer raiva. Tempo perdido. Me abraçou e me beijou. Me fiz de distraído. Me queria de volta a todo custo. Fiz ela entender que não era bobo e a convidei para sairmos dali. Ela aceitou. Ganhamos a rua, já era quase meia noite, paramos numa praça das imediações, conversamos um pouco, tiramos um sarrinho e voltamos para a casa de eventos. O bobalhão estava louco a procura da namorada, que agora voltou a ser minha. Apenas um passatempo para um rapaz de dezoito anos, depois decidiríamos como ficaria. Ela vestiu azul e sua sorte mudou.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 30/07/2023
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