NA ASSOCIAÇÃO EMPÍRICA PSICOANALÍTICA E PSIQUIÁTRICA

Esta é uma obra de ficção e os aspectos apresentados são mera coincidência.

“ A Rússia espalhará seus erros por todo o mundo.... mas no final meu coração imaculado triunfará.”

Nossa Senhora de Fátima, Fátima/Portugal-1917

NA ASSOCIAÇÃO EMPÍRICA PSICOANALÍTICA E PSIQUIÁTRICA

Após o sucesso da apresentação da tese na Academia, Quevara foi literalmente intimado por um outro grupo de psiquiatras para, com maior tranqüilidade, expor o que havia de novo no front. No caso, sua teoria de RECUPERAÇÃO DO ETHOS DESTRUÍDO PELA SÍNDROME DO MICO DA CAVERNA.

Mas antes, deveria remeter por escrito, que doença havia identificado. Não desejavam fazer da reunião um balcão de discussões estéreis. Queriam conhecer, pelo menos teoricamente, esse comportamento humano passível de tratamento psiquiátrico, suas causas, motivações, etc e tal.. Preparar-se-iam para os debates.

- Bah, Quevara, tens de fazer um documento flor de bonito.

- Claro, João, vou fazer uma apostila ou uma monografia. Mais certo é uma apostila. É isso o que vou fazer. Vou pedir ajuda ao D.Calú.

- Bueno, então vamos lá.

E lá se foram atrás do mestre.

D.Calú os esperava em seu apartamento.

Como de costume, já havia preparado algo para seu amigo Quevara.

- Amigo Quevara, como bom ouvinte de suas palestras e de pedidos de aconselhamento, preparei-lhe o documento que foi solicitado pela Associação. Afinal, não sabes mas já trabalhei com um médico e conheço todas as tramóias. Mas vamos tomar uma Fanta de Pomelo uruguaia que me mandaram da fronteira.

- Mas, D.Calú, já tens tudo pronto? Como ?

- Olha, Quevara, com a idade e intensa observação, podemos quase adivinhar o que os amigos mais chegados pensam e querem, não é?

- Si, si, si.

- Porque me olham desse jeito? O que acham que quero? Não pensam que vou tomar esse troço cor de água suja? disse João.

- É muito deliciosa essa Fanta de Pomelo e bem geladinha, melhor ainda. Mas não queres um trago , João? Não mesmo?

- Mas, mudando de idéia, claro, tô com o latão vazio e se secar as tripas não grudam?

- Mas, João, os nossos desejos são comandados pela mente e se tiveres controle, podes muito bem, passar sem abastecer-se de álcool. Mas teu estômago não é de borracha, não é?

- Sim, sim. Mas não tomo álcool, D.Calú. Tomo muita cerveja e pinga.

- É , mas desde quando cerveja e pinga não tem álcool, João? Isso só corrobora o que o Quevara disse que foste um dos inspiradores da sua tese.

- Chega de lenga-lenga, D.Calú. Tô aqui de pé e quieto que nem ovo em geladeira, me deixa, que saco!!!!!!

- Está bem, aí vai o teu trago. Toma e bebe a vontade. Sabes que não bebo contigo pois já tomei tudo que tinha direito.

- Mas, como, D.Calú?

- Sim, João, na minha juventude só não bebi água do Guaíba porque ainda tinha muita cerveja no latão, senão, nem ela escapava. Nos melhores momentos seria capaz de beber ele todo com Borregard e tudo, da entrada do Guaíba até o Rio dos Sinos.

- Mas que côsa, D. Calú.

- Hoje só vou na Fanta. E de Pomelo que me mandam lá da fronteira.

- E o estudo como foi, D.Calú?

- Pois é, João, tirei a faculdade a trago. Mas estou aqui inteirinho e consciente. Me conscientizei , no mais, coisa e tal e tu?

- Mas, bah, D.Calú, não me sacaneia...Já vem com essas de que não estudei.

- D.Calú, o Sr conseguiu interpretar muito bem o meu pensamento neste documento. Era isso mesmo o que queria dizer. Essa doença de fundo cultural modifica a pessoa, fala Quevara lendo rapidamente o que D.calú lhe apresentara.

- Sim, Quevara, e de fato podes notar a sapiência é adquirida com a experiência. Tenho milhares de quilômetros rodados em literatura dos mais diversos autores desde os clássicos aos modernos, dos catecismos suecos até a Bíblia sagrada. Minha formação é bastante eclética, mas não sectária. Sou amante da liberdade, pois sem ela jamais a humanidade progrediria. Sabes bem que consigo identificar uma pessoa de bem só pela sua presença, o olhar, modo de falar, essas coisas. É algo meio espiritual, intuitivo, mágico, mas distingo facilmente quem é do bem e do mal. Assim foi contigo e o surgimento da nossa amizade. Maloqueiro, mulher feia de calça preta, nem chego perto. Ainda me considero um aprendiz espiritual, nada sei ou pouco sei, com diria Aristóteles, não importa. O que importa é que ..

- Isso prá mim é grego, mas depois do que aprendi com o Quevara na Academia, D.Calú,....mas nos fale um pouco do seu ídolo prá me esquentar prá mais uma refrega na Associação Psiquiátrica.

- Agora não é mais hora, João. Acho que desta vez não vai haver problema para o Quevara. O público é outro, mais especializado...E outra , o Sócrates é conversa prá mais de metro. Depois te conto sobre ele. E também sobre Aristóteles, Sêneca, Kant, Hipócrates, Plotino, Ghandi, e outros sábios da Antiguidade e modernos que vão te encantar mais do que esses teus.

- E daí? Eles tomam cachaça no mercado? Não. Então são um bando de frescos.

- Mas, João, o que é isso? Como és radical? Quem não é dos teus não podes rotular desta forma. Aliás, te afinas com o Plotino, não? pelo menos no perfume, não é?

- Ah, sim, então.. é ...

- O que é? Já estão discutindo de novo?

- Claro, D. Calú não gostou quando chamei aquela turma de mais delicada. E outra, não gosto de argentinos.

- Mas quem falou em argentinos?

- Como que não? O Sr mesmo , D.Calú, falou em platinos, não é?

- Mas, João, me referi a Plotino, um filósofo brilhante que não gostava de tomar banho. Ele só fazia a higiene da mente. Mas não és filósofo e a comparação .. vamos parar por aqui, tá bom?.

- É vamos parar com essa conversa. Está quase na hora. Vamos para a Associação.

Apanharam a documentação e se tocaram para Associação Empírica Psicoanalítica e Psiquiátrica.

A apresentação na Associação seria muito diferente da Academia. Primeiro porque o público era só de sumidades da área Psiquiátrica e estavam desejosos de saber o que se passava e estava acontecendo, embora a maioria estivesse presente na Academia. Afinal, pelo menos, era o que se comentava no hall do prédio.

Segundo porque a sala não possuía cadeiras e mais parecia um consultório. Apenas um pequeno sofá, tipo triclínio grego para o convidado, uma pequena mesa de apoio e enormes almofadas espalhadas por todos os cantos. Percebia-se que cada um trazia sua almofada. Alguns traziam pelegos. Até um cor de rosa havia. A iluminação bem típica de consultório não feria os olhos de quem quer que seja e dava um aspecto de muita tranqüilidade ao local.

João, largado como sempre, trouxe sua cadeira de praia, ainda com areia da praia do Gasômetro, e quase levou uma vaia quando entrou no recinto. Como havia sido retirado á força da palestra na Academia, não retrucou, pois esta ele não queria perder.

- Tenho de prestigiar o Quevara, mas como é que vou sentar? No chão? Bueno, esses caras sabem o que fazem e não vou me incomodar. Largou a cadeira e atirou-se no chão enroscando-se numa almofada macia. Sentou bem ao lado do cidadão do pelêgo cor de rosa, que por sinal, mascava chiclete e fazia bolas bem à vontade. Seja o Diós quiser.

Quevara sentou no sofá, muito prático e confortável por sinal, que estava bem no centro da sala e colocou sua inseparável lanterna na mesa e bem á mão.

Sentia que, antes de iniciar os questionamentos, estava sendo devidamente analisado.

Todos conversavam entusiasticamente sobre o assunto e olhavam de rabo de olho. Ainda se sentia o clima da palestra na Academia.

- Quem passou o que passei pode ser analisado por todos que queiram, pensava Quevara.

Mas, sem perceber, também começou a analisar os grupos que se formavam.

Os grupos eram bem distintos.

- Aqueles devem ser da linha do Jung......

- Aqueles outros , parecem freudianos........... unnnhhh

- E aqueles bem no fundo da sala........, já enfumaçada pelo fumo de rolo , fedorento como ele só , e tragado incessantemente por um melenudo de alpargatas com um lenço vermelho e com cara de quem comeu e não gostou e que de vez em quando lhe dava uma olhada de reprovação toda vez que passava a mão na lanterna? Mas parecia entreter-se com o pelego e o cigarro feito de fumo de rolo.

- Tipo gozado era aquele. Quem seria?? Um bigode de fazer inveja.

Desta vez não haveria projetor nem computador para a apresentação: seria a voz e direta , ao vivo e a cores. Apenas um microfone e nada más.

- Amigos Psicanalistas e convidados da Associação Psicoanalítica e Psiquiátrica: estamos aqui nesta noite para ouvirmos a apresentação do Sr Adolfo Gonzáles Maradones y Ortega, ou Che Quevara, como queiram, sobre o assunto que levou a Academia a questioná-lo. Não vou ler o currículo pois todos já o conhecem da apresentação na Academia e também pelo prospecto distribuído. Como aqui somos mais especializados, ou seja, o nosso assunto é somente análise psiquiátrica, como Presidente desta Sociedade e a pedido de muitos sócios, decidi convidá-lo e assim ouvir o que tem a dizer. Sei que meus colegas já estão de posse da documentação, que foi remetida pela Internet sobre o distúrbio, sua definição, suas causas, diagnóstico e, enfim, tudo o que o psiquiatra deseja saber, teoricamente, sobre essa nova situação descoberta pelo insigne convidado. Talvez não seja mais uma descoberta, e sim, uma outra interpretação das existentes. Para isso, gostaríamos de ouvir as suas explicações abordando especificamente os pacientes estudados. Aqui não é balcão de negócios , por isso, o nosso paciente, digo, o palestrante apresentará sem mais delongas, somente o que concluiu, e assim foi tratado, e posteriormente, em documento formal o contestaremos.

- Desde já agradeço esta Associação pela oportunidad de expor mi teoria. Es uma continuacion das apresentações na Academia e para isso vou citar alguns tipos de personalidades neuropsicóticas esquizofrênicas que identifiquei, nestes meus estudos e acompanhamentos psiquiátricos. Podemos caracterizá-los como possuidores de uma Psicose Reativa Breve oriunda de valores culturais. São síndromes psiquiátricas especiais originadas por um evento estressante abrupto e que assim devem ser encaradas e medicadas. Alguns sintomas são comuns aos mais diversos tipos de esquizofrênicos, como Distúrbio de Personalidade Múltipla, o de Personalidade Histriônica, Memória de Curto Prazo Diminuída e os Bloqueios de Situações Imaginatórias, todos acompanhados de alucinações, distúrbios de pensamento e de emoções .

- Mas vamos ao que interessa, ou seja, aos tipos.

O hipocondríaco lightleft é aquele que se alimenta da sua cultura maniqueísta introjetada no seu público. São extremamente preocupados com sua apresentação visual. Podemos encontrá-los no grupo dos doutrinadores. Acredita, durante seus distúrbios paranóides, que suas crenças possuem fundamento, podem ressuscitar e se constituírem como a única verdade. São, na maioria dos casos, tratados como burgueses, devido ao seu estilo de vida. Incansáveis na busca de novos adeptos, como vampiros à cata de fornecedores de sangue. Pululam em torno de sindicatos, associações de classe , grêmios estudantis e organizações não-governamentais..

Os passivos delirantes são os lobos vestidos de cordeiros. Possuem Memória de Curto Prazo diminuída, afeto superficial sobre as pessoas e percepções errôneas, que podem caracterizá-lo como um mentiroso compulsivo ao expor seus pontos de vista ou ações futuras. Apresenta Distúrbio de Personalidade Múltipla. Suas recaídas não são notadas. Muito confundido com hippie na adolescência devido ao seu comportamento, vícios e aparência. É subliminarmente comprometido e mostra-se engajado com as maiores causas, sem no entanto, aparecer nas primeiras páginas. Colabora de modo consciente, pois sabe controlar sua esquizofrenia. Caso sejam políticos, possuem potencial queda para totalitarismo.

O paranóico ideológico tem manias e sofre de delírios de perseguição do regime anterior. Faz qualquer coisa para culpar a situação política anterior pela menor falha sua ou de seus companheiros. É um predador nato e contumaz do erário público e não assume seus erros. Apresenta distúrbios de personalidade histriônica. Adquiriu a esquizofrenia durante o passado estudantil predatório e reprimido, ou seja, permaneceu de 10 a 15 anos na faculdade fazendo proselitismo político, sem trabalho produtivo e especializando-se na técnica de influir grupos, com isso, é claro, teve sua liberdade de estudar diminuída. Normalmente é acometido da Síndrome da Folie á Deux com seu(a) companheiro(a). Dirige seu afeto para os grupos marginais da sociedade. Em vez de contar carneirinhos para dormir, conta foices e martelos. Freud explica parcialmente o Bloqueio de Situações Imaginatórias consideradas ameaçadoras potenciais.

O psicótico idealista é um sóciopata em potencial. É talvez, o que mais perigo oferece a sociedade, pois é extremamente radical e insensível. Na maioria dos casos, vem sendo doutrinado desde criança, com absoluta certeza por pais hipocondríacos light left. Apresenta personalidade com traços de Fuga e Amnésia Psicogênica e sofre de Apeirokalia. Tem a sua disposição uma estrutura favorável legal para saciar e disseminar seus delírios psicóticos. Especialista em sabotagem cultural psicológica, tendo como subprodutos a deturpação sistemática de conceitos e fatos históricos e adaptação a sua doutrina. É de difícil controle e move-se alimentado pela inveja, desconfiança dos bem sucedidos no mercado. Apresenta forte tendência a praticar atos imprevisíveis que podem ser auto-lesivos. Possui grande penetração no meio estudantil, pois suas alucinações encontram eco nos males da globalização e do capitalismo. Muito encontrado em mulheres. Nos seus delírios aconselha-se, ouvindo, ao vivo e a cores, as vozes de Lênin, Marx, Mao, Henver e Fidel Castro. Não sabe que existe o lado de fora da caverna.

O narcisista fóssil é nada menos do que um simpatizante para satisfazer seu ego com bottons, coleiras, lenços, plásticos no carro e toda propaganda útil e fútil. É arrogante nos seus posicionamentos, mas retraído socialmente. Sua agressividade esquizofrênica dirige-se aos contrários ao seu modo de pensar. Pode apresentar sinais de Delirium causado por doença cultural fatídica simulada tendendo para o Acting Out. Normalmente oriundo de classe abastada ou assalariado estável e bem remunerado do funcionalismo público nacional. Possui carros luxuosos e de último tipo, roupas de grife, bom emprego, estabilidade na vida. Colabora de modo inconsciente com a causa que satisfaz seu ego e que formatou seu cérebro.

O catatônico ruminante é um desequilibrado mental que remonta seu mundo ao arrepio das circunstâncias e fatos do dia-dia. Adapta facilmente situações adversas à sua realidade virtual. Possui atitudes estereotipadas e estandardizadas e percebe-se facilmente que não é autêntico na sua identidade. Integra o grupo que pode ser mais facilmente manobrado, condicionado ou dirigido, bastando ativar uma palavra de ordem impressa no seu cérebro. Suas paranóias são, normalmente, acionadas quando ouve algumas palavras de ordem como Direita, Globalização, Estados Unidos, Capitalismo, McDonnald’s, Shopping, Transgênico, dentre outras, embora nem saiba do que se trata. Faz parte da tropa de choque tipo Pittbull dos comícios, passeatas, demonstrações de força, invasões. É extremamente agressivo. Teve seu Ethos formatado na juventude que bloqueia cargas de mensagens contrárias ao seu modo de pensar como o paranóico ideológico . Ainda vive no final do século XIX e início do século XX.

O ecopráxico ideológico é um esquizofrênico com alucinações histéricas compulsivas, normalmente detectado pelo Teste de Personalidade Bordeline. Nos seus acessos de impulsividade, ou variação repentina de humor, pode ser confundido com homossexual em potencial- o conhecido popularmente como Ataque Histérico de Bicha Louca. Apresenta hipervigilância sobre aqueles que se apresentam como ameaça potencial ao seu status, os quais repele com conceitos e frases estereotipadas e imutáveis, embutidas no forte Complexo das Uvas Verdes que possui. Pode ser encontrado em todas as classes sociais e nas mais diversas profissões.

- Meus amigos, estas eram as minhas palavras complementando o que foi apresentado na Academia. Estou á disposição para qualquer questionamento, embora, por determinação del presidente, no teremos perguntas. Muchas gracias.

De imediato, levantou-se o ouvinte do pelêgo côr de rosa e lascou:

- Quevara, não me pealaste com estas tuas proposições. Tchê, confundir Freud com Marx e ainda mais acrescentar esse tal de ingrediente cultural numa mente esquizofrênica é demais. É como comer melancia depois de tomar leite. Essa nem o meu pai me ensinou. E isso que me criou barranqueando todas as éguas da vizinhança. Estas proposições, nada mais do que arquétipos de arquétipos, como se pudéssemos ter um fantasma de um fantasma ou palhaço de um palhaço, um espelho travestido de verdade. É como dizer arroz de carreteiro com charque, como se charque não fosse um ingrediente fundamental naquele prato campeiro. Um fantasma de Boitatá, tamanha confusão que nem nos meus pelegos com mais de mil casos , loucos prá tudo e todo gôsto, vi e ouvi. Mas me deste uma direção muito boa para a solução de alguns loucos que me procuram: Freud acena com Eros. Mas qual seria a influência de Eros nesta situação? Não seria mais interessante, aqui pensando nos meus pelegos, ver a influência do mondongo nos bailes do chinaredo? Bueno, hay quem goste. Eu mesmo, gosto com bastante vinho acompanhado de pastel da fronteira com bastante guisado, ovo, tempero verde. Isso se não tiver japonês por perto. Mas isso é prá outra hora. No outro dia, lá na Academia, falaste em destruição do ETHOS e a sua reconstrução por Freud. Tu não pode esquecer que o Homem é criação de Demiurgo, um chirú tão antigo do tempo que as guampas eram retas e que foi feito em tiras e colado com uma alma cósmica. Prá mim era cuspe de São Pedro, mas tudo bem. E outra , não venhas me enrolar e ficar dando voltas como bolacha em boca de véio que não nasci ontem, e sim, tresantonte. Reconstruir o Ethos nesses índios que enumeraste talvez seja como resolver o problema do cachorro que come ovelha. Não acredito que Freud dê conta de tamanho estrago. Nem comendo mogango com leite resolve. Já tive louco prá tudo nos meus pelegos, mas neles ainda não se deitaram esquizofrênicos desse quilate. Le digo que quem mais me chamou atenção foram os passivos delirantes e os paranóicos Ideológicos. Tive um paciente que se dizia chamar-se Noemi nos seus delírios de dupla personalidade. Curei-o com uma surra de rabo de tatu. Bueno, já estou me estendendo, mais que tripa de porco prá lingüiça. Era isso.

E levantou-se, apagou o palheiro fedorento e, colocando seu pelego cor-de-rosa nas costas, apanhou a cuia, a chaleira , a manta e se foi sem antes dar uma tapeada no chapéu e não se despediu de ninguém.

- Quem é esse? perguntou Quevara ao seu anfitrião.

- Não sei, mas me parece que é de Bagé.

- Será que não era o Analista?

Não deu tempo para perguntar porquê o sujeito já tinha sumido e ninguém tinha visto para onde tinha ido. Só o cheiro do cigarro de palha ficou no ar.

Quevara sentiu que havia perdido a grande oportunidade de defrontar-se com seu guru, mas era ele mesmo?

Bom, agora era tarde. Ele também não ia correr atrás dele gritando que nem turco enganado, como diria o Turíbio, mas........

Mal se refizera, outro cidadão já estava de palavra em punho para contestar os arquétipos apresentados.

- Sr Maradones, desde a sua primeira palestra não consigo entender á luz dos meus conhecimentos como o senhor chegou a esse raciocínio. Ainda manifesto repúdio ao seu preconceito exacerbado contra inúmeras classes , dentre as quais incluo a minha. Sou marxista-leninista de carteirinha e outras cositas más. Não posso concordar com os seus arquétipos. Ainda mais que são desprovidos de total base científica para catalogá-los como tal. Isso só pode ter conotação política, repressora e autoritária, contra os meus companheiros, pelo seu sucesso, por tudo o que fazem em nome da democracia. Ao mesmo tempo, em que o Sr se coloca contra radicalismos, mostra sua face radical no mesmo tom dos que diz combater nesta doença identificada. Isso não é descoberta e sim a mais pura e maldosa acusação contra os meus companheiros. Puro ranço antimarxista. Pura mentira, mais deslavadas mentiras. Ora essa, dizer que somos radicais a ponto de ter alucinações delíricas e ver política em tudo, de perder a identidade ao fazermos o que o partido manda fazer ou até mesmo dar respostas estereotipadas a tudo que nos contradiz é um contra senso. Isso não pode ser identificado como doença. Ninguém pode se considerar maior do que o partido, pois ele é a panacéia de todo militante. É a luz que ilumina os passos de todos os seguidores. É também uma perfeita identificação com o que propomos. E garanto que não vai ficar assim , pois já lhe digo que, eu e os meus companheiros, vamos entrar com um processo judicial contra essa falsa tese e essa falsa esquizofrenia.

- Ah, bom, então faça o que quiser, mas que são são, gritou lá de trás João .

- Continuando, o ufanismo reacionário dos que a apóiam é meramente passageiro, pois os répteis , esses que mentem e mentem , por aqui não passarão. Mas me aguarde, pois o processo judicial interpelando-o não tardará.

- Ahahahaha. Esse filme eu já conheço, ô enganador , gritou João.

- Mas, João, tu não era dos nossos?

- Sim, sim, sim. Era e tamos conversado. Tchau. To indo embora, Quevara. Hoje caiu mais um muro de Berlim prá mim. Aliás, no meu caso, mais uma Cascavel saiu da toca.. Essa nem vale a pena cagar de pau. Fui. Te espero no Magrão, Quevara. Tchau.