Outra noite
O bar estava cheio. A noite estava fria e chovia. Poderia ser uma segunda, mas era terça. A maioria dos clientes eram trabalhadores buscando refúgio depois de um dia longo de trabalho. O homem no piano tocava músicas conhecidas. Ele havia acabado de tocar Dust in the Wind do Kansas e emplacou com algumas do Eric Clapton. A música acalmava o ambiente e todos bebiam e conversavam baixo sem deixar de ouvir a música.
O pianista terminou com uma Saigon do Emílio Santiago. Alguns cantavam baixinho seguindo o ritmo do piano. Ao terminar foi aplaudido.
Abotoou o paletó cinza e vestiu o casaco por cima. Caminhou até o bar e foi servido com um copo de Bourbon. O dinheiro da apresentação chegou junto com a bebida. Ele agradeceu e bebeu em um só gole.
Sabe...Não me lembro de você tocando piano...
A voz era alegre. Ele se virou. O brilho dos olhos, as cores indefinidas e a boca desenhada que um dia ele disse parecer um coração. Ela sorriu e ele devolveu o sorriso, embora estivesse hipnotizado no sorriso dela. Demorou mas veio à resposta.
Tive tempo de praticar. Fico feliz por você ter me ouvido.
Escolheram uma mesa de canto. Tarsila continuava tão linda como ele imaginava. Havia a presença da mulher madura que havia se tornado, mas no brilho dos olhos viu que ainda era aquela menina que ele conhecia. Ele se sentiu mais calmo e feliz. Conversaram brevemente sobre a vida e o caminho de cada um. Podiam sentir o desejo querer tomar conta deles, mas queriam aproveitar a companhia ao máximo um do outro. Haveria outras noites e eles sabiam disso. Sem pressa.
Ele a levou até seu carro. Tarsila agradeceu. Seus lábios se tocaram e uma onda de calor percorreu o corpo dos dois. Ela entrou no carro jogou-lhe um sorriso e partiu. O sorriu ficou em sua mente assim como o gosto de seu beijo. Desejo. Ele sorriu.
Haveria outras noites.
Wesley Rezende