O castigo da menina
O castigo da menina
E a menina que rodopiava de princesa num salão de fantasia, treme agora assustada dentro do seu pijaminha azul salpicado de piu pius amarelos.
Uma presilha em formato de flor se agarra para não escorregar da mecha de fios suados que grudam na testa que há poucos minutos ostentava uma coroa incrustrada com pequenos rubis de plástico.
Sentada na esquina das paredes em tons de lilás, tem a cara molhada, o nariz entupido de choro, e um rio fluindo de cada olho que se encontram para brincar de pinga não pinga balançando no centro do queixo.
Ela nem sabe o que faz ali.
De cérebro ainda em semente, não entende o porquê de tão severa punição.
Aperta contra o peito ofegante a cabeça de cabelos de nylon castanhos da filhinha de espuma, e com voz sussurrada, implora baixinho por um conselho.
Mas ela já dorme envolta no mesmo xale cor de rosa que um dia também já a aqueceu
- Ela só queria que alguém lhe explicasse -
Não entendia....simplesmente não entendia.
Entre um soluço e outro, estica num rabicho os olhinhos alagados para o relógio que preguiçosamente boceja na parede.
- Queria se levantar para circular os ponteiros com o próprio dedo tamanha é a vontade de reduzir o tempo do seu martírio -
"Meu Deeeus.....Que eternidade!"
O sono desliza o seu bumbum de flanela na madeira do assoalho e ela só sabe que está cansada.
Mas a liberdade aponta só mais um minuto para a recompensa que já se apressa para arrancá-la da tortura.
Abraçada na filhinha, forma um trio com a expectativa da mãe levá-las para a cama, pois sabe que debaixo das cobertas afofadas por ela, vai ganhar o beijo da paz nos olhos de lágrimas, rezar junto uma oração de mãos dadas e adormecer para dançar com a guarda do seu anjo depois do apagar da luz do abajur.
Silvia Noronha Picchetto