O Retorno - BVIW
Abriu o portão, dessa vez estranhamente silencioso. Tinham cimentado o jardim da fachada. Também sentiu falta dos canteiros laterais, nos outubros da memória carregados de sobrálias roxas. Será que não tinha ninguém em casa? Quantos anos, meu Deus, por que tinha inventado de voltar agora, não seria melhor guardar tudo sob a luminosa alegria das lembranças do que confrontá-las com essa realidade tão antagônica? A pintura das paredes estava áspera, inchada de umidade, como se elas tivessem contraído uma terrível doença de pele. Não havia mais as cortinas de renda nas janelas, fazendo quem via de fora supor um interior doce e anacrônico. Antes de chamar por alguém, dirigiu-se ao pequeno bosque no fundo do quintal. Ele sim, com certeza não envelhecera, não mudara, não adoecera. O bosque encantado onde adentrava com medo misturado ao enlevo das brincadeiras de faz-de-conta, caçando gnomos e fadas, tecendo guirlandas de ciprestes para os cabelos, estirando-se na terra úmida e perfumada, sujando os vestidos sob a proteção imorredoura daquelas árvores. Mas também o bosque lhe pareceu tímido e raquítico, tão distorcidas são as imagens que carregamos da infância. Sentada sob um pé de azaléa, deixou as recordações esmagarem de saudade o coração. Uma lágrima solitária a procurar caminho através das rugas.