PÉ TORTINHO
Eu, em tiquinha, queria ter o pé lindinho como o da minha tia Lolinha e o meu era uma mistura do pior do pé de mãe e o pior do pé de pai. O segundo dedo, vizinho do dedão, era o mais crescido (mãe). Já o dedinho era uma bolinha meio sem forma e abaixo da linha de todos os outros dedos e o quarto dedo bem tortinho, parecendo a letra “c” (pai).
- Manhêeeee já sei de Natal, quero de Papai Noel, viu? Quero dois pezinho lindinho igual da minha tia Lolinha (estávamos em junho ainda). Quero esse pé meu mais não, renegava olhando invejosa os lindos pés da minha tia.
- Manhêeee por que tenho pé tortinho? Continuava reclamando, mexendo nos dedinhos dos pés para tentar consertar, com olhar de certeza que nada gostava do que via.
- Filha, Deus fazia você lindinha e os pezinhos especiais, os mais belos do mundo, mas cansou e dormiu. Você sempre muito agoniada, quis nascer logo. Seu anjinho da guarda, que vinha trazer você para mim, notou que só havia 4 dedinhos prontos em cada pezinho e duas bolinhas junto. Então, rapidamente, ele pegou as duas bolinhas e botou lá, mais um dedinho em cada pezinho. Mas, você esperneava muito para chegar logo e ele, quando segurou os seus pezinhos para colar direito as bolinhas-dedo, esticou um pouco uns dedinhos e entortou outros. E, justamente por isso, você é tão especial. Ninguém... no mundo inteiro... tem um pezinho consertado por um anjinho da guarda.
Olhei duvidosa para a minha mãe que tinha um ar bem sério de uma confissão de segredo e, muita desconfiada desse Deus dorminhoco, fiquei cheia de raiva do meu anjinho da guarda.
Olhando bem para os meus pezinhos e de olho nos pés da minha tia, pernas esticadas e dedinhos dobrados para esconder, insatisfeita, constatei o péssimo resultado em mim e tive convicção absoluta: anjinhos da guarda não servem para consertar pezinhos.
(histórias minhas)