Os rios do Paraguai
A guarani navega de canoa pelo rio Pilcomayo enquanto o espanhol navega de lancha pelo rio Paraguai. O espanhol e a guarani se encontram no rio Paraná. No amor entre a guarani e o espanhol, a guarani é uma doce carne para o espanhol enquanto o espanhol é um doce amargo para a guarani. O espanhol é o ouro de tolo para a guarani e a guarani é a flor descartável que não se cheira para o espanhol.
Em terras paraguaias, o rio de gado tem sua nascente no seco Chaco e se encontra com o rio de soja que tem sua nascente no solo fértil tropical castigado pelo agrotóxico. No encontro do rio do gado com o rio de soja nasce o afluente contraditório do agronegócio, rio que destrói a biodiversidade de espécies e de ecossistemas; polui o solo e a água com agrotóxicos e escraviza a terra e o homem.
O rio de mate é o Paraguai da esperança que faz frutificar a agricultura familiar de pequena propriedade que emprega um mar de trabalhadores. O rio de Chaco vira carvão com o trabalho escravo de adultos e crianças. O rio de Chaco preserva a biodiversidade enquanto o rio de mate protege a sociodiversidade paraguaia.
O rio espanhol trouxe as igrejas das missões jesuítas e a pólvora para o rio guarani no Paraguai. O rio Guarani foi manchado de sangue pela violência e ganância do colonizador espanhol. Um rio que fala guarani. O idioma Guarani é a revolução silenciosa do povo paraguaio contra a opressão da reprodução social capitalista.
O rio da violência nasce da luta pela terra pelos paraguaios e os brasiguaios. O massacre de Curuguaty produzido pelo rio da violência do agronegócio derrubou pelo golpe institucional um Presidente inocente. A reforma agrária no Paraguai deve ser destinada para democratizar o acesso à terra e a água de seus rios. Água, terra e homem devem caminhar juntos para se construir um Paraguai socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente próspero.
O rio da energia não deve somente produzir eletricidade para brasileiros e argentinos. A riodiversidade paraguaia deve ser usada para se construir uma agricultura ecológica e o ecoturismo fluvial.
Os rios que fizeram a guarani e o espanhol se encontrarem se desencontram no Paraguai massacrado pelo agronegócio perverso do boi, da soja e da cana de açúcar; pelo preconceito e discriminação contra os guaranis e pela destruição do ecossistema do Chaco.