A MENINA DE CHITA
Dolores era uma garota que morava pertinho da minha casa. Tinha a aparência grotesca, adorava dançar, cantar e prosear na calçada com a moçada. Era apaixonada por Tonho, que não lhe dava a mínima trela, pois dizia: “é muito feiosa, sem graça, desengonçada, não possuía nenhuma beleza que lhe chamasse a atenção”. Tudo isso, porque ela tinha o visual estrambólico, o olhar atravessado, pernas finas e cambotas, na opinião de muitos era um charme diferente. Dolores, uma moça agradável, gente simples, do bem, um encanto. Tinha alguns garotos interessantes vidrados nela, pois como dizia minha mãe: “Gente é como chita, uns acham bonita e outros, não". Falava-se ninguém é feio, tudo depende da visão de cada um. Para Dolores, o seu coração não batia por mais ninguém, só pelo irreverente Tonho, por ser um, cara estranho, usar roupas da jovem guarda, calças listradas boca de sino, camisa colorida, cabelo com topete e brilhantina, costeletas compridas e por gostar de rock and roll. No juízo de algumas pessoas, ele um dia iria se arrepender. Ouvia-se que o amor é cego e Dolores tinha esperança que um dia Tonho vislumbrasse para ela com os olhos do coração, com a doce magia da alma e o fervor da paixão.