OS VIZINHOS DO 601 (BVIW)

Passava das dez da noite, quando Graça desceu do elevador, no sexto andar do Edifício Assumpção, onde morava. Ao passar pelo 601, apartamento contíguo ao dela, reparou na réstia de luz, que escoava sob a porta. Alegrou-se: tinha novos vizinhos. Pensou logo que o apartamento — vazio havia mais de um ano — teria sido alugado durante os sete dias em que estivera em Caraguatatuba. Ficou curiosa: quem seriam os novos moradores? Em breve, saberia. Logo haveriam de se esbarrar pelas dependências do prédio.

Pelos próximos dias, Graça esteve atenta. Ouvia sons difusos vindos do 601. Móveis arrastados, passos abafados, choro de bebê, o miado de um gato, às vezes, música clássica tocando baixinho. Provavelmente a família do lado seria a de um jovem casal com um filho pequeno e um bichano adorável. O desejo de ver o rosto dos novos inquilinos aumentava dia a dia. No domingo, resolveu promover a política da boa vizinhança: fez um delicioso bolo de nozes e levou para oferecer aos companheiros de andar. Bateu à porta levemente com os nós dos dedos. Do outro lado, silêncio. Bateu mais forte. Nada. Foi quando o zelador veio chegando e, intrigado, interveio:

— Dona Graça, não tem ninguém aí. A senhora sabe. Faz mais de um ano que o 601 está desocupado.

Tema da Semana: A Família do Sexto Andar (conto)