RITINHA

Ritinha era uma menina moça recatada aos olhos da família, porém na calada da noite ela se transformava radicalmente. Costumava perambular pela comunidade com o intuito de se divertir às custas do temor das pessoas acerca de lendas e causos contados pelas vovós e vovôs da redondeza. Havia um estranho segredo em seu interior o qual guardava a sete chaves em seu baú interno. Das sete filhas, ela era a caçula, motivo de preocupações de seus pais, pois sempre viram em Ritinha uma menina diferente das demais. Não sabiam discernir tal estranheza que provocava a todos que com ela conviviam, ou sabiam? Bem deixa pra lá...

Certa noite de uma sexta-feira onde a lua iluminava a mansidão do mar, Ritinha ficara na janela a contemplar aquela beleza ímpar, vez ou outra seus pais chamavam a se recolher, já era tarde, no dia seguinte deveriam acordar cedo pois o caminho do cemitério era longo. Dia de reverenciar seus entes queridos ofertando flores e velas como forma de agradecimento ao tempo em que juntos viveram. Sabiam que naquele local nada mais restavam de sua matéria, mas fazia parte da tradição daquela comunidade, sendo assim não desejavam quebrá-la além do mais seu vigário cobrava de seus paroquianos a participação neste rito, como fugir desta responsabilidade? Ritinha insistia em ficar debruçada na janela à espera da procissão das velas, pois para ela, este momento era mais importante do que visitar o cemitério no dia seguinte.

Ao se aproximarem de sua casa, os romeiros todos vestidos com uma túnica branca levando em suas mãos candelabros de velas incandescentes param defronte sua janela convidando-a a seguir junto aos demais aquela esquisita procissão. Num impulso, pula da janela seguindo o cortejo até o campo santo. Sentindo-se em “casa”, junta-se aos demais numa festa bruxolica varando a noite, terminando somente quando o sol ameaçara surgir. No dia seguinte ao acordarem, seus pais percebem algo diferente na Ritinha, porém ignoram seus cabelos semi-avermelhados feito palha de milho e seguem ao cemitério para mais uma novena homenageando seus mortos.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 07/05/19

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 10/07/2023
Código do texto: T7833662
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.