O primeiro emprego - BVIW

 

 

Júlio terminara o segundo grau mas sem emprego em vista aceitara um bico como ajudante de pedreiro. Era seu primeiro dia e estranhava tudo. O tanto de massa para mexer, o tanto de tijolo para carregar, e ficava querendo fazer uma pausa na maior parte do tempo. Sem falar que era o único que não tinha levado marmita. Alguém lhe oferecera uma metade da que tinha, mas seria um crime aceitar. Ficou agradecido e tocado. Júlio era franzino, nunca fora de muita comida. Gula não era palavra do seu repertório. Aliás, se fosse bom das palavras não teria perdido Aninha pro Rubens e sua motoca velha.

 

O suor escorria diante o sol peregrino enquanto carregava umas telhas. - Ei, não podemos fazer uma pausa? -Pausa?! Na hora do café da tarde!

 

Aquele serviço não era pra ele, pois se sentia exaurido e desvitalizado, mas pelo menos se o mantivesse, compraria uma moto maior que a do Rubens.

 

Quando finalmente chegou em casa na noite daquele dia, achou bom a ausência dos pais. No fogão um prato feito lhe esperava com arroz, feijão, macarrão vermelho e um pedaço de linguiça que lhe pareceu pequeno demais para o tamanho da sua fome. Meteu na frigideira 4 ovos que saíram de lá fritos para completar seu jantar. Comeu feito um cavalo, banhou-se e desfaleceu no sofá. Foi assim que morreu sem Aninha, sem moto e sem sonhos.

Desconsolado o pai repetia a definição do óbito dada pelo médico legista.

- Congestão. Meu filho que quase nada comia, morreu de congestão.

 

Marília L Paixão

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 04/07/2023
Código do texto: T7829103
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