VALSA PARA ALICE (BVIW)
Alice saiu para dançar. Ao volante, ela ia pensando em quanto tempo não dançava. Tinha entrado para o mundo da dança ainda menininha. Ganhou muitos festivais, quando o Rêve Ballet viajava para outros estados. E era uma glória voltar com dinheiro na conta e os troféus — que orgulhosamente ia enfileirando na prateleira do quarto.
Foi a dança que a apresentou a César Murilo Dantas, proprietário da Dantas Pedal, empresa do ramo de bikes, com várias filiais pelo país. A firma patrocinava o Rêve Ballet. E foi numa apresentação de fim de ano que César se encantou por Alice, ao vê-la esplendorosa numa performance de dança do ventre.
O convite para jantar veio rápido. O namoro encadeou-se com o noivado, desaguando num casamento quase meteórico, que parou a cidade de São João do Mel. A vida de Alice virou do avesso. De jovem dançarina pulou para o glamour e posto de digníssima senhora Dantas. Mergulhou num universo repleto de eventos sociais, roupas finas, joias, jatinho particular, carro com motorista, mansão na zona Sul, casa de praia, cartões sem limite... E um veredito do marido:
— Para a dança, podemos fazer uma pausa. — E não era uma pergunta, era um decreto, o fim dos figurinos, sapatilhas, palcos e festivais.
Cinco anos depois, a descoberta: César Murilo estava de caso novo: era uma mocinha dez anos mais jovem que Alice, estrela do Rêve Ballet. Se ela chorou? Se lamentou? Não teve tempo. Divórcio assinado, já gritava dentro dela a alegria de sair para dançar. Para celebrar, haveria de bailar sozinha, sorriso nos lábios e uma taça de Chandon, a Valsa para Alice.
Tema da semana: Podemos fazer uma pausa? (conto)