AQUELE HOMEM...

Depois de muito tempo ele voltara para rever seus irmãos. Viera de mansinho sem se manifestar, a fim de perceber qual a reação da sociedade a respeito de sua pessoa. Caminhara por vales, rios e montanhas absorvendo a energia dos lugares por onde passava, porém estava conectado com o mundo digital. Vez ou outra enviava mensagens de conforto, de alegria, de amor, mas nem sempre fora compreendido e nem levado a sério, se dizia um caminhante, não errante, mas com um propósito. Relembrava de tempos idos onde fora injustamente condenado, porém se sentia feliz, fizera muitos seguidores em todos os cantos, no entanto percebera o quanto estes estavam equivocados quanto aos seus propósitos.

Grupos de várias tendências discutiam a paternidade de suas verdades, cada qual sentiam-se no direito de apropriar-se de seus discursos em detrimento dos demais. Percebera um festival de arrogância, egocentrismo, ladinagem daqueles que o reverenciavam. Sua tristeza aumentava a cada dia. Punha-se a refletir: “Nós te louvaremos, ó Deus, nós te louvaremos, e invocaremos o teu nome. A terra dissolveu-se e todos os que a habitam sentem-se perdidos tal qual como dantes, meus irmãos nada entenderam”. Certa vez caminhando pela praça percebera grupos de pessoas e entre eles, dois homens discutiam de uma forma exacerbada o seu deus verdadeiro. Aproximara-se com o intuito de ouvir com mais clareza e esclarecê-los de seus equívocos, fora enxotado tal qual um infeliz errante. Outro dia entrara num templo pomposo onde as vestes dos fiéis se assemelhavam mais a um desfile de alta costura do que um momento de adoração ao Senhor, fora totalmente ignorado pelas suas singelas vestes. Em outro templo percebera negociatas, tendo ele como o grande avalista. Imaginara ter adentrado uma casa de leilão onde aquele que dá mais leva o produto ou quem sabe uma casa de jogatinas onde as apostas se avolumam de acordo com o poder aquisitivo do jogador. Saíra do local a refletir: “Por que as pessoas terceirizam suas responsabilidades? Por que não procuram nosso Pai dentro de si? Não percebem a fagulha divina que reside em seu interior que é parte do Pai, afinal somos todos filhos Dele e se o somos cada um carrega seu DNA. Porque procurar nos templos materiais, se por si só, somos o templo de sua morada”?

Resolvera visitar uma comunidade singela, porém eclética, lá encontrara diversas maneiras de adoração aquele que nos criara, percebera haver mais legitimidade naqueles grupos diversos. Encontrara crianças famintas, porém algumas mãos se estenderam a elas oferecendo o pouco que tinham. Veio-lhe à memória, a viúva que oferecera as parcas moedas como oferenda. Também encontrara pessoas abonadas de bom coração, éticas, solidárias, parceiras do Pai. Nas instituições que se diziam representá-lo, percebera falhas, porém compreendera, pois no decorrer do tempo elas foram se desviando de seus propósitos fruto do egocentrismo e luxúria dos homens.

Diante desta nova experiência atualmente, percebera que o homem ainda não compreendera o real significado de sua existência, seus diálogos, sua história. O planeta carece de paz, de amor, de solidariedade. Quantos sinais serão necessários para que possam compreender os reais objetivos de estarem todos vivenciando um aprendizado, “desde aquele que está vestido de púrpura e traz coroa, até ao que se cobre de linho cru”? Continuara sua peregrinação convicto de que as mudanças irão acontecer desde que os homens se sujeitem a tal, porém lembrara de que “ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montes, se não tivesse amor, não seria nada. E ainda que distribuísse todos os meus bens no sustento dos pobres e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disto me aproveitaria”. Aquele homem fora caminhando, dialogando, perdoando. Sem negociatas, somente clamando por Amor...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 11/08/20

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 04/07/2023
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