Uma pequena esfinge sob a neve que cai
Eu estava um tanto perdida naquele lugar. Oh, isso raramente acontece! (Coisas da Srta. Ironia). Obviamente, era a primeira vez que estava indo naquele lugar. Estava em busca de uma famosa loja de chocolates, minha perdição, e precisei pedir informação, pois já tinha rodado o quarteirão minimamente umas três vezes.
Vi um senhor, deduzi pela forma, sentando em um banco a frente. Quando fui tocar em seu ombro, surgiu, em minha visão periférica, uma pequena figura. Parei, pensei ser melhor, não o incomodar, já que ele estava com um jornal na mão, parecendo estar mergulhado nele. Olhei para ela. Ela olhou os dois lados da rua, uma cara séria. Criei coragem e de ímpeto, a naufraguei em minha dúvida, e como tomada por uma incontinência verbal comecei: Se eu seguir por este lado (apontei para o esquerdo, minhas mãos falam, às vezes, mas do que eu) eu consigo chegar a Grand Rue? É ela que me levará a tão sonhada e salivante loja de chocolates. E então, ela sorriu... E, num átimo temporal, a pude contemplar. Ela era branca como a neve, bonita como o sol, que já, alguns dias, não se via, e sorridente como uma lua que paira no céu, perfeita, a nos observar. Estava toda de preto, a minha cor favorita.
– Não, nem por ali e nem lá. Aguarde o ônibus das 16h, e peça ao motorista para descer ao lado da Gran Butique. A loja de chocolates fica a 30 passos, após esse ponto.
Agradeci. Tentei um assunto qualquer: – ... E a neve, será que vem?
Rapidamente, como um golpe de sabre ela interpôs: – Preciso ir. – E assim, voltou a ficar séria e seguiu. Sem ao menos um adeus.
A neve já era esperada, é inverno, extremamente frio, mas ela deve ser teimosa, aparece quando quer. E a moça partiu, solitária e pensativa. Se fosse num desenho animado, aposto que veria o balãozinho indicando isso. Não se via mais seu rosto, o capuz a protegia bem. E se afastando, era apenas um ponto negro partindo. Eis então, que a neve deu caras. Nesse mesmo instante, a pequena esfinge virou-se para trás e sorriu, deu para ver seus dentes brancos, reluzentes, enquanto eu percebia os primeiros pingos de neve cair.