Aparição de Solange
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"você já decidiu
se eu existo...??"
Do meu lado esquerdo
existiam arbustos...
Um pequeno pedaço
de caatinga num tufo
... onde poderia até passar
um pouquinho de água
numa pequena corredeira
caso não fosse a chuva ...
Que resistia em cair.
"eu vou partir logo...
você já conseguiu?
já conseguiu decidir
se eu existo...?"
Do outro lado existia
uma sala grande com
um sofá marrom e uma
mesa de granito.
Em cima da mesa,
uma pequena vitrola marrom
tocava uma canção do
Pink Floyd, que se
chamava "Dogs".
Não havia amor em
nenhum dos dois lados
e então eu olhei pra trás
e em seguida pra frente
... seguindo aquela voz.
Nada havia na cama
apenas um desnível
um laço rosa que era
a única coisa de pano
que a cobria,
naqueles últimos
e longos cinco dias.
E um cheiro...
um cheiro que não
me deixava dúvidas
de que Solange era
de verdade.
E minha paixão por ela
era tão palpável quanto
as lágrimas que desciam
se rastejando por minhas
bochechas tristes.
Era madrugada
e eu saí andando
pela rua vazia, subindo
uma ladeira de pedra
... num frio que fazia
os meus dentes
rangerem.
Olhava em volta...
esperando encontrá-la
nos mais escuros dos becos
nos mais desconfortáveis
dos buracos.
Esperando um: "Bu!"
Esperando um: "Ahá!"
Esperando um: "Se assustou?"
Surgiu uma voz
que parecia vir
de todos os lados
"Você já decidiu?"
"... decidiu
se eu existo?"