O homem mais solitário
- Neil e Buzz serão conhecidos para o resto da história, serão reverenciados ad eternum, serão verdadeiros heróis. E eu...
Os pensamentos copiosos invejosos tomavam conta da cabeça de Micheal. Envolto do vício de achar que as ciências astronáuticas conservariam a importância da década de 1960 por toda a vida, elucubrava que a história não lhe reservaria grande destaque, com certeza menos do que para Armstrong e Aldrin.
- A mim coube a missão mais importante. Enquanto eles pisam naquele ermo ambiente que só consegue ser belo em poesia, fica comigo a missão de piloto. Um único deslize meu, uma única vacilância e eles ficam condenados até os seus últimos dias naquela fétida e fria pedra no espaço. Dias esses que se tornariam minutos dado ao perigo que é a Lua.
Mesmo que a necessidade da atenção se fizesse presente, urrando em sua mente, não conseguia parar de pensar o quão sozinho estava. Circulava no satélite espacial. Eram poucos minutos, mas era a solidão que "desde Adão ninguém nunca sentira". Como Adão nunca existiu verdadeiramente, Micheal Collins se sacralizava, fazia aquilo que a Bíblia apenas apontou que poderia existir uma única vez: era um homem legado a completa solidão. Sem visão da Terra, sem visão de colegas, sem nada. Seus pensamentos eram suas únicas companhias, confrontando a sanidade com a loucura. Em um cenário tão pouco caótico, resta ao homem apenas a sua verdadeira natureza: a maldade.
- Quando voltar para Terra, mentirei demasiadamente sobre este momento. Jamais revelarei o que pensa uma pessoa completamente solitária, tamanha elucubração não leva ninguém a nada. E eu quero muito que essa loucura sozinho na Apollo renda frutos à minha pessoa.