[O Caderno Preto do Britto] – A Ruiva do Pijama Listrado

28 de junho de 2017

 

– E o que você fez? –

– Perguntou o amigo da professora universitária... – Estavam frente a frente na sala de visitas. Ela acabaria numa segurança máxima em breve, ele sabia disso... Mas ela sorria. Sorria o tempo inteiro... Seus cabelos estavam soltos e se pareciam mais ruivos do que nunca.

 

– Ele gritou de dor! – Ela disse sorrindo lindamente. – Seu amigo também queria rir. Na verdade sua boca moveu-se instintivamente formando um sorriso tímido e ligeiro. Uma boca querendo incentivar o corpo a desabar numa gargalhada... Uma gargalhada de vitória. Sim... Ela sempre foi uma campeã. Mas o riso teve de ser disfarçado por uma fajuta tosse fingida.

 

– Eu o reprovei em minha matéria e ele me chamou de incompetente! E me xingou!! Na frente de todos os outros alunos. Eu já não estava muito boa... A caneta tava ali na minha frente. Aquela BIC rosa que você me deu outro dia... lembra? Ele bateu a mão na mesa (fez um estrondo, todo mundo olhou) querendo me intimidar e ficou me encarando sorrindo. Eu peguei o lápis e enfiei na mão dele.

 

Havia na sala, além deles dois... dois policiais. Calados. Mas não puderam deixar de dar risadinhas abafadas quando ela disse o que fez.

 

– A mão dele ficou presa, ele ficou puxando. Chorava como a grande menininha que era de verdade. Puxou de vez e lascou tudo, o sangue jorrou em minha roupa... Eu gargalhei na cara dele. E foi isso.

 

– É, mas... Me disseram que você não parou por aí. – Ele perguntou, olhando rapidamente em volta como se de repente a sala toda fosse de vidro e todos estivessm assistindo a conversa.

 

– Bem... “SUPOSTAMENTE”... “ELES DISSERAM” (ela enfatizava as palavras com as duas mãos em aspas gigantes de puro sarcasmo) que o 'veadinho' correu pro banheiro e que “SUPOSTAMEEENTE” eu fui atrás dele. E, bem; eu NÃO SEI direito a história, por que obviamente eu NÃO estava lá pra ver, mas... Disseram que eu “TERIA” enfiado uma “OUTRA” coisa, algumas vezes... em sua garganta... É o que dizem. – E mais uma vez ela riu... Seu amigo a conhecia há anos e nunca a vira brilhando tão forte. E rindo tão alto.

 

– Masss... Não há provas. Eu admito que eu perdi as estribeiras e enfiei a caneta na mão do idiota. Mas o resto?! Alguém se aproveitou da situação, com certeza. Ele era um cara detestável! De maneira alguma eu mataria um homem APENAS por dizer que eu não sou tão mulher assim. Que não sou boa em meu trabalho, essas besteiras...

 

A professora e seu amigo sorriram com uma cumplicidade típica de amigos de longa data. Ela foi levada pelos dois homens. Voltou rapidamente o olhar e piscou com graciosidade. O amigo acenou com a cabeça... se veriam de novo, era simples, ele sabia. Ela ia sendo puxada e parecia desfilar. Parecia flutuar pela sala... Tudo nela estava muito mais bonito.

 

(H.B)

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 28/06/2023
Código do texto: T7824536
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