CASA
Caminhava devagar pela a rua do centro, quando as primeiras lágrimas do céu me acertaram em cheio, anunciando que a chuva começara. Não tive muita escolha e tive que sair correndo, pois carregava alguns livros recém-comprados em uma sacola.
Avistei uma conveniência não muito longe de onde estava e partir em sua direção, me certificando que os pingos da chuva não acertassem meus livros. Atravessei a rua já um pouco encharcado, um homem no carro buzinou para mim indicando que o sinal estava verde e que eu não deveria atravessar, dei de ombros e seguir meu rumo mesmo assim. A conveniência não havia ninguém, exceto eu e a atendente.
-Posso ajudar? - Perguntou a atendente.
-Trazendo uma toalha me ajudaria. - Disse em tom de humor que não funcionara, ao invés disso trouxe só um clima constrangedor. - Desculpe, recomeçando. Vou querer um café capuchino e um croissant de queijo, por favor.
A atendente fez que sim com a cabeça e foi até a máquina de café, pegou um copo e apertou o botão do sabor que eu desejara. Em seguida do lado da máquina de café, abriu a portinha de vidro da máquina que continha os croissant, pegou a de queijo, enrolou com papel toalha e me entregara. Em seguida disse:
-Tem uma mesa com umas cadeiras lá no fundo, você pode comer lá. Se precisar é só me chamar.
Após isso, ela voltou pro balcão. Achei tudo isso meio desagradável de sua parte, sua feição, o tratamento ao cliente, a voz … Não sei o que estava passando no momento, mas parecia mal-humorada, como se tivesse cansada da vida que sujeitara no momento. Mantinha o pulso contra o queixo, e olhava a chuva cair lá fora. Os olhos distantes, como se tivesse pensando em milhões de coisas ao mesmo tempo. Seu nariz era achatado, e tinha olhos estranhamente atraentes, usava uma camisa polo rosada que continha sobre o peito um identificador. “Beatriz”, dizia.
Deixando tudo isso de lado, comecei a andar até o fundo da pequena loja. As fileiras de produtos eram pequeninas e não demorou muito tempo até chegar a mesa. Me acomodei em uma cadeira, coloquei meus livros sobre outra ao meu lado e coloquei meu café na mesa. Havia uma janela ao meu lado, onde eu podia avistar a chuva caindo. Não tinha ninguém nas ruas, a não ser os carros que iam e viam.
Dei a primeira mordida no croissant, não era tão recheado como deveria ser. Uma grande enganação. Dei um gole no café, esse estava delicioso, melhor que o croissant sem gosto e sem queijo. Deixei minhas mãos descansarem em volta do copo. Comecei a ponderar como essas ruas faziam parte de minha história, cada beco, cada viela, revelava uma parte de mim, gravada no tempo da memória. Presente e passado, no mesmo espaço.
Havia vindo até ribeirão para visitar meus amigos e familiares, estava cansado de são paulo e de sua forma acelerada de viver.
Queria um lugar calmo, onde eu pudesse ter mais controle de meus negócios, pois tudo aquilo que é muito rápido perdemos o controle facilmente. Queria um lugar onde pudesse me sentir eu mesmo, e ribeirão fazia isso com maestria sobre mim. Lembro de muitas coisas nessas ruas, boas e ruins, geralmente boas. Não é fácil ser escritor, mas eu tentava. Mas só conseguia fazer isso em casa, no meu lar. Onde eu sabia quem sou, sem dúvidas existenciais à respeito.
A chuva parara e eu terminara meu croissant, dei o ultimo gole no café e fui até a atendente.
-Quanto vai dar tudo isso? - Perguntei a atendente displicente.
-Doze reais. - Respondeu.
Deslizei a mão sobre meu bolso esquerdo da calça e tirei minha carteira. Peguei uma nota de vinte e a entreguei. Ela pegou.
-Aqui seu troco. - Disse ela me entregando o resto das notas.
-Muito obrigado – Disse a ela enquanto observava seu crachá. - Beatriz.
Ela deu um pequeno sorriso tímido.
-Até a próxima. - Ela respondeu.
Saí da loja e segui pela a duque de caxias. Precisava chegar até o terminal antes que as lágrimas do céu rolassem novamente.