Brincadeira de Crianças
No dia, que a noite nunca permitiu, ao sol da luz mais clara, como a tarde, com poucas nuvens...
Nos olhávamos pelas frestas da cerca, que nos envolvia. Não nos aproximavamos, embora nos conhecemos.
Do lado de lá inocente, você tocava as mãos à terra do chão gelado, que a cada investida aquecia. Do lado de cá, o bobo rabiscava no papel, qualquer coisa como um desenho louco, que a cada traço fortalecia o laço, de que um dia se saberia, o significado daquela fantasia.
As horas passando e os dois conversando ao olhar...você mesmo a dez anos de distância nutria uma vontade qual não entendia...eu já começava aos poucos conhecer um desejo, que a tua cândura, inocente, sem querer me impunha.
Do terreiro de chão frio, da folha de papel, dos brinquedos esquecidos, dos heróis e princesas, as valsas da vida urbana, qual você corria pra um lado e eu para o outro, a procurar o brilho que o mundo induz e diz estar escondido nos verso dos capitais.
Nos ir e vir das horas, até nos encontrávamos nas curvas e esquinas das ruas da vida...você, inocente, agora mulher, com seu olhar esbugalhado, de brilho maltado, como a flor, envolta na gotícula do orvalho, da noite de luar...e eu, há muitas léguas, de ti, bobo, já sentindo dentro de mim, alguma coisa ardendo veementemente, te olhava com um desejo ardente, que me atropelava nas pedras e calçadas da cidade.
Homem feito menino, estonteado com tua beleza, não conseguia ordenar as palavras, pra descrever, o quê minha alma teimava em querer.
Até que um dia, enfim, frente a frente te assustei, como a brincar na infância. Tu parada ali, com aquele sorriso lindo, de adolescente na irreverências do mundo e eu, de propósito, te parando, abordando a tua necessidade de partir.
Eu querendo te dizer algo alem de mim e tu, sem perceber, ou não querendo ver, como o coelho da Alice, sempre atrasada , querendo, querendo partir.
Não obstante, o tempo, que nunca esquece, o que há anos ouve de nossos sussuros veio sob véu nos presentear, a rir ou a chorar...
A uma realidade, que após o véu cair e as luzes da ribalta descerrar , no último capítulo, pode-se , enfim identificar os personagens. Como você do lado de lá, tocando o chão gelado, a sonhar comigo, ficando sem palavras, ao se vê diante do corpo do homem, que do lado de cá, com os seus rabiscos de papel mal traçados, escondidos , a bem da verdade te revelava.
O anti-herói de quem falavam e a princesa improvavel estavam de novo frente a frente, numa distância, que destoava, mas o que procuravam latejava, vivo e aquecido, do frio e do caos, que os imorais tentam impor dia após dia, como ordem do sistema mundial. Mesmo que ainda fora da realidade, o menino bobo e a inocente rebelde, apaixonados não veem a hora de ao menos um minuto, após tantos desacertos poderem, ao menos romper o muro e pela primeira vez tocarem as mãos, de corpos nus, brincarem, se lambuzarem nas suas fomes e na única valsa, que nunca dançaram, beberem embriagados o beijo de um sentimento puro.