A Língua da Mulher Lagarto

 

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[09.07.21]

 

A língua da Mulher-lagarto saía e voltava pra boca numa velocidade que quase não se podia notar. Cada vez que saía, ela trazia consigo um golinho de cerveja; Encostada num poste na escuridão da noite. Quem passava por ela recebia um olhar julgador e brilhante… amarelo como lâmpadas acesas. O ato de se benzer e se afastar correndo era tão repetitivo diante dela, que todas as pessoas pareciam sempre a primeira e a única. E todos os minutos e segundos... idênticos. Aquilo soava como um ato combinado de repulsa. Que se rápidamente se tornava convenção... Mas, nem todos eram convictos do seu próprio horror particular. A Mulher-lagarto usava uma bota e um enorme casaco vinho... tentando se proteger do frio da chuva, cujas gotas batiam em suas escamas, naturalmente geladas. Cada pingo alterava a coloração dos seus braços, patas, bochechas, calda... Ainda que as lágrimas (que também desciam, um pouco) não tivessem a mesma "química adaptável" do resto (pois eram somente lágrimas). Bem ao longe ela via uma praça iluminada lá embaixo… E abaixo dos toldos, um casal de adolescentes sentados num banco, unidos em joelhos, braços e bocas… quase parecia inofensivo, ao ponto de nem merecessem morrer. A Mulher Lagarto podia comer qualquer outra coisa, qualquer outro bicho... Preferia insetos até. Mas sentia que os humanos poderiam "durar um pouco menos" ou deveriam existir num número reduzido. Mas ela não estava com fome. Ela só queria ficar ali. E beber sua cerveja... Odiando o sabor, mas amando os efeitos.

 

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(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 23/06/2023
Código do texto: T7820151
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