João e Joana
Eles eram um que o destino fez dois. João e Joana não conheciam outros seres, eles se bastavam. Era um coração, mas Joana, independente que era, decidiu desfazer-se de João e agora cada um começou a sentir as dores do amor. Eles não conheciam sofrimento, ilusão, perda ou quaisquer coisa que pudesse causar dor, pois, enquanto um, os corações acalentavam-se. Joana começara a perceber que haviam outros corações que acalentasse o seu, João, coitado, ainda se via preso a ela. Respirou. Tentou convencê-la de que era mais cômodo serem um, mas ela, por ser uma máquina de respostas curtas e impensáveis, disse-lhe que não foi aleatoriamente que o destino os fez dois. Ele sofreu. Ela sorriu. Inconsequente, floresceu em novos jardins, permitiu que João fosse inverno, enquanto ela a própria primavera. Tentou ser perene, mas isso tornou-se impossível, pois parte dela ainda era João. Permitiu-se ser tempo. Passou. Quando em João não havia mais Joana, a primavera começou a se diluir na chuva e não mais havia outra estação. Perderam-se de tudo. Os inesquecíveis momentos foram esquecidos, junto com o perene amor que se mortalizou. João qpassou por Joana e seu coração a reconheceu e o inverso aconteceu na mesma intensidade, mas eles se perguntaram para si mesmo: 'haveria razão para um recomeço? Valeria a pena perenizar-se? " Simultâneo silêncio. As dores de dois corações destoados perderam-se ao vento, pois eram um que se fez dois que não mais se reconheciam. Entreolharam-se, Mas foi em vão. Fizeram um breve esforço, no entanto, perceberam que era melhor ser dois, cada um com suas confusões, mas com a certeza de que havia um ímã que fora quebrado e agora, nem tempo, nem primavera são suficientes para que seus jardins floresçam. Vivem num inverno, mas iludem-se com a primavera que criaram para satisfazerem a necessidade de quem os tornou dois: o destino.