O ROUBO DA BANDEIRA
Francisco de Paula Melo Aguiar
No passado a maioria do povo da zona rural, principalmente no Nordeste do Brasil, erguia um mastro de bambu e ou outra madeira no centro do terreiro na frente da casa com a bandeira de pano contendo a foto de São João do Carneirinho, enfatizado na letra e na música de Luiz Gonzaga e Guio de Morais.
De longe se avistava a bandeira tremulando no topo do mastro.
Estava iniciado o ciclo junino do roubo da bandeira de São João, quem fosse mais esperto as caladas da noite que roubasse.
Assim era a devoção popular envolvendo os festejos do Senhor São João Batista, o filho de Santa Isabel e São Zacarias, também conhecido como o primo de Jesus Cristo, aquele que preparou o caminho do Senhor no deserto e que batizava com água, precurso do que batiza com o Espírito Santo.
Era nesse tempo que eram realizados terços, procissões e adivinhações envolvendo os santos juninos...
Fogueiras, comidas típicas (tendo o milho como matéria prima), fogos, devoções, roupas de chita, alpargatas, chapéu de palhas, bailes de arrasta-pé abrilhantado com sanfona, triângulo, zabumba e pandeiro, bandeirinhas no cordão para tudo que é lugar, lanternas de papel em cores com vela acessa dentro.
Para os adultos bebidas quentes, tendo a aguardente como a mais popular e barata.
Tinha até estrelinhas para as crianças brincar.
Nessa época não existia ainda energia elétrica na zona rural como atualmente, porém os terreiros, salas e latadas onde as festas eram realizadas eram iluminadas a base de lamparinas com pavios alimentados por querosene ou carborete...
Era compadre, padrinho e.madrinha de fogueira para tudo que era lado.
E tudo era feito disendo: Santo Antônio disse e São João confirmou que nós fossemos compadres (padrinho ou madrinha) que São Pedro mandou. E diziam os nomes das pessoas envolvidas de mãos dadas e cruzadas sobre dois tições de madeira acessos tirados ou tomados emprestados ao santo dono da fogueira.
Naquele tempo não existia ainda a Internet que temos hoje, porém, existiam os balões como forma de comunicação popular e solidariedade cristã. Portanto, o foco na atualidade é outro movido a drogas lícitas e ilícitas que coisificou o indivíduo e seus pertences e costumes...
E antes do sol nascer no dia de São João, o dono da casa tinha que está acordado para pegar as cinzas quentes da fogueira do Senhor São João e arrudiá a casa para o Diabo não vim dançar no seu terreiro.
Entre uma fala e outra, alguém durante os festejos ou não, roubava a bandeira de São João que era mantido em segredo durante um ano, época em que a mesma seria devolvida com outra grande festa, procissão, etc, dependendo das posses de quem roubou...
E segundo a tradição junina de que quem roubasse a bandeira de São João e a escondesse durante um ano ficaria protegido de todos os males do corpo, da alma e do bolso, uma vez que poderia ficar rico, tem algo relacionado a plantar e colher, mesa farta.