Dois corpos
O passado trouxe uma lembrança da qual ele não queria que chegasse à sua memória. Estava perdido em seus sonhos e tudo o que havia nele eram incertezas sobre o passado e o futuro e, instantaneamente respirou. Tudo parecia sem sentido até que em alguns minutos tudo começa a se processar em sua cabeça e as ideias pareciam fazer sentido ainda que não fizesse.
Estava sentado em frente ao espelho de onde se despiu e não reconheceu quem era, nem o que fazia parte de seu corpo, estava perdido em seus pensamentos e não conseguia se concentrar em suas vontades: reconhecer quem era e o qual era sua função no mundo. As lágrimas lavaram seu rosto, quando ele percebeu que não estava em frente ao espelho, mas diante de alguém a quem amava profundamente. Lavado o rosto e os olhos secos, começou a enxergar o que ninguém mais conseguia ver.
Perdido dentro dos olhos daquele outro corpo que estava paralisado à sua frente, sentiu uma vontade louca de descobrir o gosto do beijo e não hesitou. Levantou-se, deu dois passos à frente e parou inerte, o ser que estava frenético à sua frente, questionava-se como não podem dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, se há alguns centímetros dele estava o outro? Ele também deu dois passos à frente e seus corpos tomaram dimensões que ninguém poderia imaginar. Os lábios se encontraram e, no fechar dos olhos, eles eram um corpo só. Não se sabia onde um começava, nem onde o outro terminava. Foi naquela noite que eles decidiram viver.
Quando os lábios se desgrudaram, a língua de um escorregava pelo corpo do outro que estava ainda de olhos fechados em outra dimensão. O gosto da pele branca sendo desvendado pela maciez da língua do corpo negro que escorregava com vontade por cada detalhe do corpo. Um virou o outro de costas e estendeu suas mãos para o alto, enquanto o prendia contra a parede e lentamente massageava sua nuca, as costas, a cintura e mais um pouco abaixo a saliva começava a encher seus lábios, a língua recebeu um novo papel: satisfazer os desejos daquele corpo que estava pressionado sobre a parede. Depois de beijar com muita intensidade na altura um pouco abaixo da cintura, o tesão já os consumia completamente. De repente, Cláudio estava deitado de bruços, enquanto Henrique massageava cada detalhe de seu corpo. Uma noite de penetração intensa e muito gostosa para ambos. Depois de se satisfazerem, foram ao banheiro, tomaram um banho e voltaram a sentar um de frente para o outro.
Com os olhos marejados, decidiram que seria a primeira e última vez que eles se provaram, porque havia um universo que os distanciava. Talvez fosse uma grande loucura, mas era preciso que cada um seguisse seu caminho. Ao levantar-se, Cláudio deixou o outro para trás e, sentado sobre o banco, não mais se reconheceu ao espelho. Mais uma vez seu rosto foi lavado por algumas lágrimas e uma borbulha de pensamentos o incomodava, porque ele não sabia como seria dali para frente.