A última fogueira

Aquele lugar causava arrepios de tanta escuridão, já que ficava debaixo da superfície de uma construção em ruínas. Uma escadaria formada por cem degraus, em forma de caracol e íngreme, dava acesso ao sótão da antiga casa dos Bispos. Senhor Lauro foi muito feliz ali, e Santinha foi tomada pelo espírito mundano e fugiu com Zé Carlos, o caseiro da fazenda. A propriedade abrigava forasteiros e viajantes, pois seu Lauro gostava de contação de histórias e reuniões ao pé da fogueira e quentão. Um dia, a tropa chegou com uma novidade: a bela Serena. Moça bonita. Olhar desconfiado, cabelos ruivos soltos ao vento e um espelho debaixo dos braços. Gostava de se olhar, e a cor do desejo nos seus lábios era carmim. Seu Lauro ficou encantado com a moça. Quis conhecer sua história. Virou a noite emprestando seus ouvidos aos seus macabros causos. Uma moça tão bonita, mas seus dedos delicados carregavam o peso do pecado. Trinta e cinco no total. No outro dia, de manhãzinha, a tropa levantou acampamento, e Serena ficou para trás. Seu Lauro fez convite para a moça ficar mais um pouco. Ela se interessou pelo sótão, e depois de conhecer todos os cômodos pediu para dormir naquele lugar sombrio. Fez do sótão sua eterna morada, e seu Lauro seguiu a mesma jornada. Um espelho, um batom, e gotas de sangue pelas paredes refletiam o drama sofrido ali.

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 17/06/2023
Código do texto: T7815620
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