O Diabo e o Violeiro

 

 

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O Violeiro sentiu o cheiro da terra que inalava. Molhada, grudada no asfalto morno. O Violeiro não viu a caminhão que o atropelou...

Bateu e o arremessou, lançou seu corpo numa árvore. Depois desviou do que sobrou dele e seguiu caminho.

O Violeiro bateu numa arvore enorme e velha, cheias de galhos fortes. Não podia disputar a importância de sua vida com a dela. Aquela árvore tinha visto muitas coisas... O Violeiro procurou com os olhos a sua viola, mas o que viu – do outro lado da pista – foi seu braço esquerdo (ando ainda seus últimos espasmos) e o "toco" restante, sendo tomado por insetos e formigas.

O Diabo então se aproximou assobiando, muito contente... Como sempre; muito vermelho, com seus chifres de bode e um bigode, já há muito tempo, fora de moda. Fumando uma mistura de tudo que faz mal ao homem.

"Ou o braço ou a viola.” ele disse. E o homem escolheu a viola, pensando bem rapidamente.

O toco do braço que ficou jorrava sangue, numa dor excruciante e já se aproximavam baratas e vermes. Mas aquela viola era daquelas violas que a gente pega amor... e se acostuma... e nunca empresta... Também não quer mais tocar com mais nenhuma.

"Realmente... É uma boa viola...". Disse o Diabo, sorrindo, e indo embora. Levando numa mão o seu cachimbo, e na outra o braço do violeiro.

 

[15 de junho de 2017]

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 16/06/2023
Código do texto: T7814862
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