Namoro de quintal
- Albertinho, anda, sai desse mormaço!...falou dona Wilse, sua avó.
O menino teimoso como a maioria, quando entretido, brincando com seu barquinho de papel no pequeno córrego, que seguia o destino do rio, entre os tajás e o poço do mato, apenas acenou com a mão. Afirmando que atenderia ao chamado, mas no seu tempo.
Quando baixou a cabeça, para rebrincar, uma sombra, que não era da nuvem encobrindo ao sol, mas que vinha do quintal ao lado, entre a cerca de madeira e uma toiça de capim marinho, sob uma voz suave dizendo em par com a brisa:
- Garoto obedece a tua avó.
De súbito, estupefato ao tom e consequentemente ao brilho nos olhos...ele quase não falou. Tomado de susto, susto e depois estonteado por aquela beleza aliada as flores do campo, como uma perfeita tela pintada. Sob esse designo, aquela menina, o despertou:
- ei...ei acorda. Xi pequeno...parece que viu fantasma.
Aos poucos saindo do transe, sem conseguir dizer além de nada, com a sinceridade de um bobo restabelecido foi incisivo ao dizer sem perguntar o nome:
- Você, você... de onde tu veio?!...
Sob a alcunha da inocência, ela, sem dizer seu nome, se abaixou e rindo, como a lua deitando no rio, na altura do menino, entre a toiça e a cerca, o muro do mundo, respondeu com um olhar profundo e no seu rosto virginal beijou.
O tempo ali parou...
No silêncio do momento, os olhos conversaram tão assintosamente, que ele...
Sem saber o que mais dizer, mesmo sem tirar os olhos dela , entrou em casa com o rosto iluminado.
Ela...
Descontrolada das emoções, apressadamente correu, como se tivesse pecado, como se tivesse acendido a luz no escuro, entrou na casa de sua tia. E sem nada a dizer, pra quem quisesse saber... entrou no quarto de dormir e foi refletir.
Como uma travessura qualquer, ficou assim entendido pra quem na cozinha, pensou querer uma resposta aquela entrada vultosa.
A noite já passeava no horizonte, quando sol se despedia do dia e aquele pequeno mundo adormecia as margens de qualquer coisa que nascia.
Aquela noite, comum a tantos viventes, de repente , pra àqueles pequenos, ficou tão distante. A infância entregava a adolescência o nome dos réus, que a paixão na hora certa iria interrogar.
Sob os uivos, cantorias, lendas e o crepitar da lenha ardendo lá fora, pra vó do menino, aquecer a maniçoba, enquanto ele, aos poucos , ainda sob efeito daquele olhar, lentamente na rede adormecia. A menina, princesinha de um distante lar, ouvindo da sua tia, conselhos em forma de história, pra ninar, sobre o canto das cigarras as seis horas da tarde, em Belém do Pará...
Ela, ouvia obedientemente sua tia, mas pensativa, tão inocente, como a flor primogênita, de um jardim a despertar pro mundo um sentimento, oriundo de um olhar, refletia naquele encontro, sem saber o que esperar. Porque era tão jovem a cismar... adormecia como a luz apagando-se pra descansar.
Sob a produção do destino o fogo ardia nas almas, que brincaram de se encontrar. Na manhã seguinte, a chuva fina da cidade das mangueiras teimou em ser o entrave daquelas pérolas, na arte de amar.
Quando enfim, a chuva estiou, o menino correu pro fundo do quintal, e a menina, ao ouvir seus passos, feito bailarina acompanhou, como se a hora dos corações Inquietos tivessem marcado encontro.
Assim aconteceu...
Sob um rito sem explicação, os dois estavam lá. Frente a frente... a se olhar. Deixando da boca sair um ar quente a adoçar, aquele pacto, que paulatinamente os tomou, aqueceu e os abrigou.
O fim da tarde escrito na coincidência das horas, se reportava em finalizar o dia anterior, referendando o versar emocional daqueles adolescentes, que sem saber, ainda eram simpatizantes de "Peter Pan ". No entanto, o dia, o tempo realmente era outro... nem o lugar era exato. Envoltos no que sentiam, sem conhecer, o bobo e a inocente, com o mel fervente na boca alimentaram suas emoções, num beijo tão puro, como a gota do orvalho da noite, no colo da primeira rosa na primavera...