A IDENTIDADE DA DOR  (BVIW)

 

Logo a menina chegaria. Dorvina não sabia qual desculpa nova inventaria para que a neta não subisse até o sótão. Todo ano, nas férias escolares, Julinha insistia fazendo drama. A avó lhe amava muito, mas havia lugares que considerava inadequado revirar, por isso evitada ir até o sótão. No ano anterior, porém, por conta do acidente de bicicleta que a menina sofreu, a casa ficou em silêncio sem a presença alegre da neta, esse seria um motivo para satisfazer a vontade da garotinha. Depois dos abraços de saudades, Júlia com seus olhinhos vivos de alegria, disse: - Vovó, agora já tenho oito anos! Posso conhecer o sótão, não é?

 

Sem poder quebrar a palavra, e acreditando que de fato já havia passado o tempo de espera da menina, foram as duas subindo as escadas. Os passos de Dorvina eram hesitantes. A menina, ansiosa, já havia entrado no compartimento e acendido as luzes, disse: - Puxa! Quanta coisa! Parece a gruta do tesouro!

 

Dorvina finalmente entrou. Ficou admirando a neta toda feliz pelo desejo realizado. Abaixando-se junto à menina, abriu a velha arca onde continha muitos objetos. Dentre eles, o espelho. A avó ao se ver refletida, deu um grito de pavor e chorou sofridamente. Júlia se assustou, ficando curiosa: - O que foi vovó?

 

- Desculpe, meu amor, há fantasmas do passado que assombram quando as lembranças se acendem na mente. Seu bisavô foi um homem bastante severo. Ele maltratou muito minha mãe e os filhos. Ao me ver no velho espelho, veio a imagem do meu pai me agredindo enquanto eu me preparava para ir à festa... Foi um dia de grande tristeza.

 

Abraçando a avó com carinho, a pequena concluiu: - Dever ser por isso que a senhora carrega até um pedacinho de dor no nome...

 

 

Tema proposto pelo BVIW   -  O espelho do sótão

 

(BVIW - *BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").