EXÍLIO
Há muitas histórias na memória das paredes...
Incansáveis passos caminham sobre o chão de madeiras corridas que rangem como gemidos, cozinha de chão batido, fogão de lenha, taquara seca quebrada, novas labaredas formadas, coador de pano, bule esmaltado, café fumegante e o cheiro do bolo de fubá com queijo se exalando.
Um dia, por impulso, troquei tudo por caminhos sem laços de afagos desejando encontrar outro céu e viver sem elos de amparos, sem ter hora para voltar, segui pela estrada aberta, me iludindo com miragens.
Como pude crer nessas aventuras, nesses disfarces, nessas ervas daninhas?
Decidi voltar atrás.
Encontrei ninguém não, mesmo que ainda estejam lá, já estão além.
Encontrei apenas as histórias incrustadas nas entranhas de tantas paredes que o tempo não dissipa.
Me tornei um ser único que vaga acompanhado por sombras misteriosas que flutuam.
Sigo levemente para não despertar ninguém, para não desenterrar o mundo, para não renascer o absurdo, nem desmanchar as fagulhas dos sentimentos.
Caminho entre os talheres e os panos de prato empoeirados sobre a mesa, entre a natureza morta dos quadros ainda pendurados e esquecidos nas paredes.