Para sempre Marilyn
Então me diga quando você encontrou com Marilyn? É uma história difícil de acreditar.
Realmente era uma história impossível de acreditar. Ele sorriu e acendeu o cigarro. Kat despejou mais vinho tinto e ele bebeu um gole antes de continuar.
Tem razão, eu mesmo quase não acredito. Mas algo que lembro até hoje me fez não esquecer essa história.
O que?
O sorriso triste dela.
Ficaram em silêncio até ele continuar depois de tragar e soltar a fumaça pro ar.
Eu trabalhava como detetive particular em Los Angeles. Foi no ano de 55 até 62. Eu conheci Marilyn Monroe através de uma amiga dela. Eu havia feito um trabalho para essa amiga, descobrir uma joia. Marilyn estava em Nova York. Foi lá que a encontrei com a amiga com quem me encontrara para entregar o objeto desaparecido. Era uma noite de sábado e durante uma festa a conheci. Eu me lembro de ter saído de lá impressionado. Afinal eu tinha conhecido a poderosa e estonteante Marilyn Monroe!
Fez uma pausa para beber o vinho e fumar. Kat sorriu.
Com certeza você ficou nas nuvens. Eu ficaria.
Ele sorriu também.
Não quero me gabar, mas eu era o melhor. Rápido e discreto. Acabei sendo o detetive queridinho de Los Angeles entre os famosos atores. Eu vivia em festas e entrava de graça nas peças de teatro. Mesmo assim, uma mulher como a senhorita Monroe, nos deixa nas nuvens. Ela morou por seis anos morando em Nova York. Depois voltou para Los Angeles. Isso foi em 61, no final desse ano nos encontramos outra vez numa festa de natal. Ela estava em um romance com Frank Sinatra.
Kat assobiou. Ele balançou a cabeça confirmando.
Não sei como aconteceu, ela sofria de depressão e talvez precisasse de alguém para se abrir. Ficamos bem íntimos, realmente não sei como aconteceu. Naquela época as pessoas confiavam demais em mim. De qualquer forma numa noite de julho ela me ligou. Pediu para eu ir até sua casa e se pudesse ser discreto, melhor. Foi o que fiz. Ninguém me viu chegar. Achei que iria ter uma noite incrível com aquela pequena.
Ele esmagou o cigarro no cinzeiro.
Ela me puxou para dentro e me abraçou com força. Seus lábios roçaram de leve os meus, eu senti o úmido das suas lágrimas naqueles lábios borrados. Ela me olhou nos olhos e deu um triste sorriso. O sorriso mais triste e pesado que já vi. Um sorriso que não saiu da minha memória nunca mais. Ficamos a noite inteira na sua sala. Ela chorando em meus braços. Não sabia o que fazer, então cantei num sussurro um velho Blues que aprendi em 1937. Ela foi se acalmando e dormiu no sofá. Achei melhor leva-la para seu quarto e a deitar em sua cama e sair dali discretamente.
Kat tentou sorrir. Não conseguiu. Ele suspirou e acendeu mais um cigarro.
Eu a vi uma vez no fim de Julho, antes de viajar para um trabalho. Eu a prometi que assim que voltasse conversaríamos. Ela me agradeceu e disse estar ansiosa para o reencontro. Deu-me um sorriso, que eu notei algo diferente. Alguma tristeza talvez? Nunca saberei, faltando um dia para voltar à Los Angeles, Marilyn morreu.
E ele fumou em silêncio. A taça estava vazia.
Eu queria que essa história não tivesse acontecido. Eu achei que teria uma noite com Marilyn, mas no fim tudo o que eu queria era não ter viajado e ficado ao seu lado, para ajudar de alguma maneira.
Mas o que você poderia fazer?
Nunca saberei Kat...
Wesley Rezende