Vicente
A pobre moça passou anos de sua vida trabalhando sentada, segurando a vontade de fazer xixi e bebendo pouca água, o que resultou em diversas infecções urinárias que atrapalhavam demais sua vida sexual: sempre que ia manter relações íntimas, sentia muita dor e desconforto.
Um belo dia casou, mas não engravidava, fato que a levou a se tornar amarga e rancorosa, especialmente com crianças.
Anos mais tarde, foi abandonada pelo marido, não por não engravidar, mas justamente pelo rancor e amargura que exalava - e que ficavam cada vez mais evidentes e piores.
Buscou refúgio na religião, passando a viver enfurnada na igreja, mas começou a nutrir sentimentos dos mais impuros e inconfessáveis para com o jovem Padre da paróquia, em quem ela sempre pensava a noite (enquanto se tocava), antes de dormir, situação que a deixava cheia de culpa e arrependimento, mas que ela não conseguia evitar.
Os anos passaram, ela se aposentou, o Padre morreu, ela parou de ir na missa e sua única "diversão" era implicar com a família, amigos, vizinhos e mais um ou outro alguém que cruzasse seu caminho. Chegou a entupir de propósito o cano da pia só pra chamar o encanador e ter com quem discutir.
Em certa ocasião, uns moleques da rua, cansados de suas acusações e reclamações ("Vão andar de skate na frente da casa de vocês", "Parem de algazarra aqui na minha porta", "Eu sei que foram vocês que colocaram uma bomba na caixa de correio da Dna. Aninha", "Vou contar pra mãe de vocês que vocês tem revista de mulher pelada", "Parem de sujar minha calçada", "Vou denunciar o Joaquim do bar por vender vinho pra vocês" e etc.) jogaram um sapo enorme pela janela da sua casa, fato que causou uma enorme gritaria quando o anfíbio caiu no seu colo, além de uma ligação para o 190 que (felizmente, para os moleques) acabou não dando em nada.
Uma noite, caiu no banheiro e fraturou o fêmur. Demorou quase uma semana para que alguém sentisse sua falta, e ela sobreviveu por todo esse tempo ingerindo apenas água do vaso sanitário.
Quando faleceu, já tinha pra lá de noventa anos e estava em um asilo. Partiu dessa para sabe-se lá onde gritando com toda força dos pulmões por um tal de Vicente - que ninguém sabia quem era.
FIM