Solitude no roseiral
Certa feita, havia uma linda roseira, ficava à beira da estrada, visível e ao alcance de todos. Contudo, um pequeno botão de rosas chamara a atenção, mesmo em meio a tantas rosas desabrochadas.
É que há tempos estava recolhido em seu interior, fazendo com que todos os dias, os mais intrigantes olhares, e talvez mais sensíveis também, notassem esse comportamento peculiar e retornassem no dia seguinte; pois eram vários galhos com suas rosas já desabrochadas, e apenas esse botão recluso.
Entretanto, mal sabiam do real motivo que levou a radical atitude.
Por muito tempo, escancarou sua beleza.
Em tempos de outrora, fora uma rosa vistosa... majestosas pétalas encorpavam toda sua estrutura...a tal ponto de outras rosas sentirem- se menosprezadas, recalcadas... pois atraía todos olhares para si.
O que não imaginavam era o peso que isso lhe causava, pois era sempre a primeira rosa a ser arrancada, sendo sempre desagrupada... sentia- se furtada, queria ser cativada e aquilo mais parecia uma maldição... desejavam a possuir sem qualquer apreço... sem o mínimo gesto de amor ou dedicação, tão logo era desprezada e abandonada a própria sorte... não havia qualquer elo de sentimento, e isso a machucava demais ... sensível e a 'flor da pele' ( literalmente), desagradava-lhe ser tratada de tal forma, como um mero objeto de adorno que após serventia era descartado... suas pétalas murchas e esmaecidas, ressequidas pelo esquecimento.
Tomou então atitude radical. Havia decidido que após perder suas últimas pétalas, iria se valorizar permanecendo como um botão, tomou altas doses de seiva bruta, a qual, supriu todas suas carências emocionais, sentimentais... vivia agora a descoberta do amor próprio. Reclusa em seu interior, não considerava renascer tão cedo... não ansiava agradar a multidão, tampouco competir com nenhuma rosa, ela se bastava, e por sentir- se pela primeira vez tão amada e valorizada, deixava os burburinhos correrem solto ao seu redor...ensaiava seu retorno triunfante, mas não no tempo que a requisitassem, não queria cumprir metas e nem expectativas alheias... aliou -se consigo mesma!...regozijava a plenitude de ser... e tudo haveria de ocorrer no sábio e perfeito tempo dela.
Dentro dela já era Primavera!
Desfrutava desse momento sem qualquer cobrança. Curiosos continuavam em busca de respostas e as demais rosas não se sentiam mais tão inseguras.